CLARICE – UMA LEITORA ESPECIAL

Algumas palavras se desenham no monitor: um comentário e um nome. No texto, posso colorir a personagem: uma jovem mãe com sorriso sereno e olhar atento.

A percepção compartilhada à distância desfolha pequenas centelhas na escuridão de um conhecimento eletrônico. Repartimos o céu e compreendemos a pluralidade dos astros. As crianças acendem as estrelas e tentam nos mostrar os caminhos. Somos também as luas que silenciam, as mães que se reescrevem nos filhos, as vivências possíveis e desejadas...

Mando uma mensagem de agradecimento, desnudo-me da distante autora... Sou apenas uma perspectiva que ganha forma nos olhares alheios, uma sombra que acompanha um pensamento distante...

Novos comentários... Novas identificações... Percebemos que tivemos bibliotecas na infância e fomos encorajadas a aventurar nos caminhos envolventes dos livros. Aprendemos a encontrar as veredas possíveis na ficção e na realidade...

Aproximo-me da personagem, tento compor o olhar arguto no espelho. Ela procura as palavras escondidas em seu interior, tenta costurar os retalhos numa colcha de vivências, acorda assustada com um novo personagem a lhe cutucar a alma, questiona as formas de criação...

Como dar a luz a gestações indeterminadas?

A correspondência se aprofunda e podemos desvelar alguns enigmas. A prosa é o instrumento que camufla metáforas. Novos nomes desenham personagens pequeninos: Vito e Barbarella abrem novas cortinas: pratos coloridos alimentam o crescimento, grandes janelas libertam a criatividade... Os filhos se multiplicam...

Dançam algumas inquietações. Escrever é uma necessidade e ser lida a realização. Devemos escrever a percepção, ler o outro lado, ser a compreensão, estar no limite da sensibilidade.

O diálogo ilumina novos textos. Projeta a essência e desenha novas sombras com o olhar da leitora que significa claridade. As palavras se fortalecem e ganham o mundo...

Recebo alguns textos. Leio a timidez das primeiras palavras e a coragem de lançar um pensamento ao vento... Surpreendo-me com “A valsa das aleluias” e com a crônica sobre o almoço colorido com o filho de três anos.

Clarice desnuda-se do casulo e alça o vôo dos pássaros. No horizonte, luzes e aleluias, no mar cotidiano, o pequeno menino e suas artes.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 22/06/2005
Código do texto: T26944