Com o passar dos anos

Conversava com a moça muito jovem e muito infeliz a se queixar de sua ausência de beleza. A jovenzinha, tão bela a meus olhos, via-se imersa em profundos pesares devido aos defeitos que ela mesma descobria aqui e ali em sua face. Disse-lhe não poder deixar de concordar com as deficiências apontadas, mas considerar todas elas mínimas, insignificantes.

Meus argumentos pareciam não causar nenhum efeito na triste menina, que acrescentava ainda mais imperfeições à lista, ao comentar o restante do corpo. Retruquei, sem precisar mentir, que ela era muito lindinha, e que sob avaliação tão rigorosa, nem mesmo as mais belas moças das revistas deixariam de revelar inúmeros defeitos.

Como já era previsível, meu argumento não surtiu efeito, deixando a menina tão infeliz quanto antes. Disse-me que em sua turma havia várias muito mais bonitas que ela, que se considerava a si mesma muito feiosa, contra o que protestei veemente e honestamente.

Após um número considerável de tentativas vãs para convencê-la de sua própria beleza, só me restou apontar a ela sua imaturidade. Disse-lhe que seus problemas eram muito pequenos, que seria maravilhoso para mim se todos os meus problemas se resumissem àqueles poucos e tão insignificantes. Se todas as minhas dificuldades se resumissem a aquelas, eu seria o cara mais feliz do mundo.

Embora eu percebesse a inutilidade momentânea de minhas observações, disse-lhe que em sua idade todos os problemas eram muito simples, e devo ter mostrado alguma ponta de inveja ao considerar o quanto eu seria feliz se voltasse a ter a idade dela. Ao mesmo tempo, eu me regozijava com a minha própria sabedoria adquirida com a experiência. Sentia-me sábio e satisfeito ao me comparar com a jovenzinha infeliz, e perceber que, posto em sua pele, saberia levar uma existência feliz que me permitiria explorar o melhor que a vida me oferecesse.

Despedi-me da moça e de seus probleminhas superficiais, e minha admiração com minha própria sabedoria logo se esvaiu para dar lugar aos meus próprios tormentos, sérios, profundos, drasticamente preocupantes naquele momento, fazendo-me mergulhar em uma tristeza considerável.

Caminhava tristemente pela rua em busca de uma solução para minhas agruras, quando encontrei um velhinho já muitíssimo idoso.

Nossa conversa foi muito rápida, uma breve troca de cumprimentos:

— Como vai tudo bem?

— Tudo bem.

— Ah, na sua idade todas as coisas do mundo são boas, na sua idade só pode estar tudo bem. Disse o velhinho sabiamente.