JOGOS DE INFÂNCIA – Mandrake/ Chapa Branca/ Badoque/ Cowboy

MANDRAKE

Inspirada no personagem das revistas em quadrinhos que paralisava seus adversários, essa brincadeira consistia em ficar estático quando alguém dissesse Mandrake!

Só podia sair da posição quando fosse dispensado.

A única forma de escapar era estar com a mão direita espalmada na altura da fronte como se estivesse prestando a continência militar.

CHAPA BRANCA

Variação de Mandrake por conta de que, naquela época, os veículos oficiais tinham a placa branca com números pretos.

Quando aparecia um desses veículos, quem não estivesse prestando continência levava umas tapas.

Com as mãos espalmadas, a turma batia na cabeça do incauto.

Essas tapas de raspão chamavam-se lixa.

Levar lixa dói muito.

BADOQUE

Arma fabricada com uma peça de madeira em forma de “Y”, atada com tiras de borracha e couro, destinada a atirar pedras ou quaisquer outras coisas que sirvam como munição.

A melhor forquilha é a de goiabeira, maleável e resistente como descrevi no conto – Arrependimento, publicado em 24.09.08 –

Nas brincadeiras de guerra, as sementes de mamona (Ricinus communis), também conhecida como carrapateira, era a melhor munição.

Quando é para caçar usa-se pedra ou bolotas de barro secadas ao sol (cozidas ou não) apelidadas de “bateu cagou”.

COWBOY

Nas tardes de domingo íamos todos ao cinema assistir filmes de Cowboy, do Zorro, Bat Masterson, Roy Rogers e isso era inspiração bastante para as brincadeiras de cowboy.

Nossos cavalos eram as varas longas usadas para vasculhar o travejamento de madeira e telhas que apareciam no alto das paredes das casas cuja maioria não tinha laje.

Com elas entre as pernas, em desabalada carreira pelas ruas e terrenos baldios, brincávamos o dia todo.

Os revolveres (daqueles que nunca faltam balas) eram fabricados por nós mesmos com qualquer madeira disponível. Alguns mais habilidosos conseguiam fazer uma engenhoca que disparava balas de feijão ou milho a curta distancia. Para isso minha mãe fornecia carretéis vazios das linhas de bordar. Montávamos uma espécie de êmbolo acionado por tirinhas finas de borracha. Como toda boa arma “soca-soca” precisava ser recarregada após cada tiro.

O objetivo da brincadeira era roubar o tesouro dentro de caixa de sapato ou saco velho composto de espelhinhos redondos e tampas dos refrigerantes Crush, Grapette, Guaraná Fratelli Vitta, Laranjada Cliper ou gasosa da Antarctica.

Nessa época os filmes não eram dublados e as legendas eram assinadas por João Branco. Acredito que esse nome devia ser de funcionário da Atlântida que distribuía para todo o Brasil os filmes produzidos pela Metro, Fox, Paramount etc.

As vinhetas de abertura era inconfundíveis:

Fox, pela música;

Metro, pelo leão rugindo e a frase Ars Gratia Arts que um dia eu copiei e levei para testar se o professor Filgueiras, que me ensinava Latim, sabia traduzir;

Paramount, quando o condor abria as asas toda platéia fazia chhhhhhhhh!!! Até que ele, voando, desaparecesse no horizonte.

Há um ator, Broderick Crawford, que eu acho que ele trabalhou em todos os filmes de cowboy daquela época. Era sempre bandido e o primeiro a aparecer depois da vinheta que terminava com a frase “Legendas de João Branco”.

Talvez por isso a meninada passou a chamá-lo de João Branco.

Eu também o chamava assim.

(Continua em Adivinhações/ Charadas/ Teatro de Sombra/ Cama de Gato/ Jogo de Palavras)