Keni e Geni na terra de Linguariri

Noite de sexta feira 13. Cidadezinha pacata de Linguariri. Longínquo do litoral. Vento frio sopra nos galhos secos dos arbustos. Vuuum... No céu, uma estrela vem se aproximando... Uma estrela se mexendo!? Não, digo, algo em formato de disco-voador. (?). Brilhante.

Um menino de barriga de soro grita para o pai:

--- Paim, pia, um zavião!

--- É não, menino! Deve de sê um balão da Barrera do Inferne; da capitá. Pia, mais num é mermo...

O objeto voador desconhecido não era balão nem avião. Era a conhecida espaçonave alienígena dos compadres extraterrestres Keni e Geni. Vieram visitar o lugarejo naquela noite preguiçosa. Eles queriam passear só para ocupar o tempo.

Então, a nave silenciosamente foi se aproximando das casas e...

--- Rá, rá, rá, rá!....

--- Que foi, Keni?!

--- Olha aquela enorme estátua por cima do monte!... Daria uma boa caixa d’água, não daria?

--- Keni! ... Respeite a imagem da santa! Se não vão dar parte de você na delegacia.

--- Ah Geni... Como você não sabe das coisas, hein? A delegacia desta cidade nem delegado tem.

--- E nem juiz!.... Rum, rum, rum...

--- Ei, Keni, até o padre foi embora!

--- Que cidade bu... Espere, Geni! Que tal irmos àquela praça ao lado da igrejinha? Tem um grupo na calçada conversando. Vamos ouvir as canversas?

--- Como você é curioso, Keni! Querendo saber da vida alheia!

O disco-voador ativou o disfarce e ficou invisível bem em cima da casa da família Curineu. O povinho estava aos bochichos com olhos arregalados.

(uma velha) Mais cumpade Onça, num te conto as novidade!

(Seu Onça) Que foi?

(rapaz alegre) Oba! Oba! Tia tem fuxico!................ Ai!!!.................

A velha dá um beliscão no sobrinho.

(uma velha) Mi arrespeite! Seu filho duma... Num sô fuxiquera, não! Eu sou é moça séria e só conto as verdade. Orá!!!

(o bodegueiro da praça) Calma... calma... Chupa aqui essa balinha que a senhora vai se sentir calminha, calminha...

(uma velha) Quero não, brigada! Eu tô limpa hoje!....

(Seu Onça) Vamos direto ao assunto, minha gente.

(uma velha) Ora! Esse minino!... Mais cumo eu tava dizendo... Onti, aqui, nesta cadera, uma adévogada, amiga minha, disse, que, o clienti dela disse ,que disse... Mais num conto...

(rapaz alegre) Diga, diga, diga, diga, Tiinha! Ai, conta logo!

(uma velha) A adévogada, a dotôra A... Má, mi esqueci du nome da cabrita. Mais sei que ela é uma gordona de oi trocado. Bem, sem arrudei. A adévogada disse que fulano disse...

(Seu Onça) Adiante logo, omi!!!

(uma velha) Eu digo! A dôtora disse que o cliente dela robou milhão da prefeitura e tá no pau na justiça federauuuuu! Da capitauuuuu! Era o prefeitoooo!

(todos da calçada) Óhhhhhhhh...

(Seu Onça) Aquele cabra nunca me enganou! Vou é dizer tudinho aos meus correligionários. Vamos colocar as verdade num blog de um menino nosso! A notícia vai sair que nem fogo de palha!

(uma velha) Pois foi, cumpadre Onça. A dotôra me disse tudim. O prefeitu ladrão vai pra algema. Má, se não vai!

(rapaz alegre) Afê! O prefeito na cadeia! Isso vai arrombar a boca do balão! Ai!

E diante dessa roda de boatos, a língua descansa um pouco para ver o espetáculo de um poeta bêbado que aparece na praça e recita:

(poeta bêbado) A morte mata o morto que morreu!...

O morto apodrece e fede que nem cavalo!...

O verme come a carne do defunto que morreu!...

E o morto morreu!...

A platéia faz um ar de que não entendeu nada. Nesse momento, depois do mau cheiro de bufa, os ETs resolvem se retirar.

--- Keni, esse chão tem falação que é uma apelação. Oh, rimou...

--- Pois é, compadre Geni. Já descobri o porquê da cidade ser chamada de Linguariri.

--- Rá, rá, rá... Não diga!

--- Muito bem, keni, aperte os cintos. Ligando os propulsores extras... Ligados.

--- Certo, mas cuidado com a cabeça da estátua e as línguas grandes desse povo!... Rá, rá, rá!...

--- Tudo bem, e desligue o rádio ET Bilú!... Tudo pronto.

<<Zump!!!>>

A nave parte num piscar de olhos.

Enquanto isso, no chão:

--- Paim, o zavião foi cimbora!

--- É... Foi... Mais que coisa istranha.

FIM