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Faltam apenas dois dias para o apagar das luzes de 2010. Percorro a web, como todos os dias, em busca de notícias, novidades, bons textos, opiniões sensatas sobre qualquer assunto, polêmicas. Abro o Facebook, dou bom dia no Twitter, leio e respondo emails. Confiro no caderno o que tem para hoje: poucos itens. A semana se arrasta, bem devagar, da mesma forma que em todos os anos, nesta mesma época.

Aproveito o tempo que sobra para repensar o ano. Impossível não fazer isso. Escrevi recentemente, em "Fim de ano - Planos para agora", que decidi fazer antes o que todo mundo planeja para fazer depois e que não me entregaria à ansiedade comum neste período. Porém, dar uma volta no passado recente é um exercício involuntário, principalmente para alguém com uma rotina feérica; os compromissos vêm e vão e sigo fazendo.

Terminei um tratamento contra o câncer de mama há exatamente um ano. Encarei 2010 como se fosse o primeiro ano da minha vida, determinada a viver intensamente, viver o hoje, curtir cada minuto, atrair saúde, conquistar qualidade de vida, buscando permanentemente a significação da vida e paz. Confesso que não fui capaz de chegar muito perto de um resultado satisfatório, para mim. O dia a dia é excessivo; quase não dá tempo para deixar um pensamento entrar.

Sofri perdas e essas deixaram marcas muito dolorosas pelos quatro cantos da minha alma. Senti o peso do abandono, mesmo com tanta gente sempre à minha volta. Ainda choro, com frequência, de saudades de alguém que hoje só vejo em sonhos. Sofro com a dor da minha família, da mãe calejada.

Por outro lado consegui me presentear com realizações de desejos engastanhados por mais de dois anos. Meu livro está publicado, me mudei, decidi morar junto com o namorido e abraçar (literalmente) esta nova relação, ganhei outra vez uma família que posso chamar de minha. Depois de muito tempo pude comemorar meu aniversário entre amigos, algo difícil num dia 27 de dezembro. Isso me fez imensamente feliz.

Já ouvi de muita gente que balanços são sempre chatos. Inventaram este negócio de ano termina 31 de dezembro e outro começa em 1 de janeiro e a gente fica com esta batata quente na mão, esta necessidade meio insana de refletir no que foi e projetar o que será. O que pode um movimento do ponteiro à meia-noite mudar numa vida inteira?

E nem abri espaço nesta crônica para falar do que foi o ano fora de mim, no meu trabalho, na minha cidade, no país, a decepção com a imprensa brasileira, a descoberta de que estou rodeada de dezenas de pessoas preconceituosas e deseducadas socialmente. Isso me deixou imensamente desanimada.

Porém, vamos ao que interessa. É com a soma das alegrias e tristezas, das conquistas, dos adiamentos de planos não realizados, e a certeza que no próximo sábado o dia vai amanhecer como todos os outros, que termino este papo um tanto assim assim. E proponho a todos um brinde muito especial, pelo menos pra mim: ergamos nossas taças à saúde. E que 2011 nos encontre cheios de coragem e fé. Até lá.

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 29/12/2010
Código do texto: T2697945
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