Calçada do Mar

Embarcamos no catamaran e zarpamos às 20:00 hs. Era uma noite de céu isento de nuvens, e iluminado por muitas estrelas. Ali estava eu, filha adotiva dessa cidade linda e rica em mistérios. A emoção invadiu o meu coração ao contemplar as luzes que iluminavam os prédios e refletiam nas águas do mar e dos rios Capibaribe e Beberibe.

Que orgulho ser tua filha, Recife, mesmo que adotiva.

O conjunto daquelas três ilhas, unidas por aquelas pontes iluminadas, fez-me viajar no tempo e imaginar a necessidade premente dos homens e mulheres da época por unir aquelas terras. Terra encantada, banhada pelo mar, que motivou a construção da Casa de Banho, usada para tratar da saúde de seu povo, fez nascer nele, o gosto pelo banho de mar como lazer.

Recife, arrecifes, "calçada do mar". O passeio que hoje fazemos por você, nos deixa encantados com as obras do mestre Brennand. Houve alguém que um dia versejou: "O oceano Atlântico é o doce encontro dos rios Capibaribe e Beberibe", nossos corações vaidosos de recifenses apaixonados, acreditam nesta afirmativa com o orgulho bairrista de quem ama esta cidade incondicionalmente.

O catamaran deslizava nas águas, e nossos olhos deslizavam pela paisagem do casario antigo, berço de nossa cultura, eternizada em seus azulejos portugueses, seus sobrados centenários, sua arquitetura impressa nas pontes, palácios e esculturas seculares. Sem nos esquecermos também de lembrar: nos versos de nosso grande Manoel Bandeira, o qual se encontra hoje presente numa charmosa escultura na rua da Aurora, sentado sob um arco a admirar as mesmas águas que ora vislumbramos, e que viveu e imortalizou a beleza e a imponência de nosso Recife em suas obras.

O coração batia mais forte, tanta era a admiração e orgulho por poder pensar: "minha cidade é linda". O antigo ao lado do novo, sem estranhamento, sem divergências, antes, dando à nossa Recife, um charme e um poder todo especial, que só os grandes e nobres conseguem ter.

Desfrutamos da vista da herança que os holandeses nos deixaram, que é o conjunto de obras de arte sem par, marcado pelo Palácio do Campo das Princesas, Palácio Joaquim Nabuco e pelo Palácio da Justiça, onde temos o face a face dos três poderes, unindo a antiga Ilha de Vaz à Ilha da Boa Vista. Maurício de Nassau também nos presenteou com o Teatro de Santa Isabel, obra inspirada nas grandes casas de espetáculo da europa, e que já recebeu tantas peças que foram eternizadas pela energia irradiada de todas as pessoas que as prestigiaram com suas emoções e palmas.

Quanto mais navegávamos, mais nos emocionávamos com as águas iluminadas pelas estrelas e luzes artificiais, colocadas ali pelo homem, pra que melhor desfrutássemos dessa "Veneza Brasileira", que nos apaixona e arrebata o coração, impedindo-nos de deixá-la, seja por qualquer razão.

Recife, menina que desfila na "calçada do mar", e que paralisa o meu, o seu, o nosso olhar.

Wanusa Pinto
Enviado por Wanusa Pinto em 29/12/2010
Reeditado em 03/04/2013
Código do texto: T2698954
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