FAXINA EM MIM

           Sabe que acordei pensando no que eu vou fazer no ano que vem. Pensei muito, procurei ideias novas, pensamentos novos, pensei em vasculhar todos os cantos do meu cérebro e fazer aquela faxina, jogar fora tudo que não prestasse mais. Retirar do lugar os quadros e as marcas do tempo. Por num saco gigantesco um monte de tralha que deve tá escondido embaixo do tapete todos esses anos. Pensei: “- mas por onde começo...” sinceramente não soube responder. Quem sabe preciso de ajuda, vou chamar uma faxineira pra me ajudar. Mas depois eu pensei: “- não, isso não, uma faxineira ela poderia pegar coisas importantes la do começo da minha existência e jogar fora, me daria prejuízo, pois me faltaria as doces lembranças da infância. Levantei peguei uma vassoura, um rodo, um pano e um enorme balde. Decidida, fui ao trabalho. Pra começar dei logo de cara com uma porção de retalhos de pensamentos soltos voando em volta de mim. Tentei agarrar cada um pra no lixo colocar, mas como pássaros ligeiros voaram cada vez mais alto e sumiram pelas arestas não aparadas de algumas feridas perdidas que não deixei que fosse curadas. Logo deixei pra lá, não eram importantes tenho muito o que fazer. Passou por mim um rato enorme nele tava escrito um nome, nem olhou pra mim, correu e logo se escondeu, fugiu e por um buraco pequeno de um pensamento qualquer la se escondeu. Corri a procurar pra este rato matar, mas não o encontrei e também deixei pra la. Varri tudo, passei o pano, lavei paredes e já muito cansada armei uma branca rede e nela deitei, olhei pra todos aqueles pensamentos vazios jogados no lixo, e tive a certeza que não precisava ter guardado tanto por tanto tempo. Olhei para o outro lado e vi o resultado do meu árduo trabalho, amigos que não eram amigos que muito deveria ter sido retirado dos meus guardados e fui deixando lá. Olhei pra mim e vi uma pessoa mais leve, mais forte e cheia de novas escolhas. Percebi que muito do que fui deixando ao longo do tempo não posso jogar fora pois fazem parte de mim. Foram incorporados ao meu caráter, foram acrescentado ao meu jeito de ser. E ao longo do tempo pedacinhos de pessoas amadas foram ficando comigo e formando o que sou hoje. Algumas dessas pessoas já viraram lembranças mas outras viraram ratos e continuam a se esconder dentro de buracos de pensamentos e percebi que também não posso matá-los pois fazem parte de mim. E assim terminei a minha faxina e sabe o que sobrou, tudo pois eu fiquei, entre mudanças eu mudei. Mas não deixei de ser EU...

Escrita em: 31/12/2010 19:26


Nanda Gois
Enviado por Nanda Gois em 01/01/2011
Reeditado em 18/04/2011
Código do texto: T2702560
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.