Caminhar

“Diga-me com quem andas, que te direi quem és”, diz o ditado. Não apenas pela companhia, o andar denuncia a personalidade das pessoas; mas muito pela forma de andar, em si. O verão é o grande cúmplice das caminhadas e as praias suas melhores passarelas. Passarelas, sim, pois há desfiles e muita, muita plateia.

Há os executivos, esses não caminham por caminhar; parece que o fazem para chegar, apenas. Olham para frente e seguem como se o entorno não existisse. O andar é decidido e o expressão determinada. Mesmo no meio da natureza, não saem de seus escritórios, permanecem à mesa de reuniões, dando ordens.

Moças de tênis, short, camiseta. O corpo forma um arco nas costas, com a bunda se projetando... bem, talvez um pouco mais do que o necessário. Caminham rápida e decididamente. Poderiam ser confundidas com o executivo, porém sabem que são observadas, embora finjam alheamento total ou um certo desprezo aos (e às) mortais invejosos.

Idades, idades. Botox para cá, silicone para lá e tinturas sobrando nos cabelos – por que será que, em muitas mulheres, o fato de pintarem os cabelos não é tão flagrante e nos homens é um atestado de breguice? – e a fonte da juventude, milagrosa e mentirosa, desfila suas cobaias. Seguros de sua maturidade, há os que aproveitam o que a vida lhes dá: sobram pneus em uns, falta massa a outros, mas estão numa fase em que isso é importante, sim, mas muito mais para o coração mecânico do que para o etéreo. Os passos são de todos os tipos e jeitos, são os possíveis, não os observáveis. Belíssimos passos.

Casais são um capítulo a parte. Existem aqueles que demonstram cumplicidade até na forma de andar. Andam juntos, conversam através de palavras, de sorrisos ou do simples ato de andar lado a lado. Outros mostram claramente como as coisas são em casa: não há comunicação, sorrisos, brincadeiras, apenas o estar juntos sem, verdadeiramente, conviverem. Muitas vezes, um toma a dianteira sem olhar para trás. Deixam pegadas desconexas.

Chutam areia, andam em ziguezague, molham os pés no final das ondas, observam as pessoas, a paisagem, os barcos, o sol, os eventuais pingos de chuva. Caminham por caminhar. Curtem. Caminham no ritmo da Terra. Mais felizes, certamente.