PRESIDENTA

Coisa alguma é mais bela que a poesia que emana do povo. Enquanto toda uma simbologia romântica desfila, como vimos acontecer na posse da primeira presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, o cidadão comum observa, às vezes até inocentemente, a paisagem criada pela força de sua vontade.

A força da massa popular se agiganta ao ver uma mulher assumir a presidência do maior país da América do Sul. Este, um país de personalidade fascinante, cônscio de sua liberdade, de seu charme e de sua peculiaridade. O povo brasileiro promoveu a mais fenomenal transformação de um homem simples, pobre e nordestino em um dos mais comentados e respeitados governantes de toda a história do Brasil e, neste momento, realiza a proeza de, em meio à mentalidade machista, escolher uma mulher para sentar-se na cadeira mais importante e desejada da nação. Trata-se de colocar excluídos dentro dos palácios (como aconteceu recentemente nos Estados Unidos da América do Norte), dos carros oficiais, das solenidades que fazem história. Assim, é como se cada excluído ali estivesse, partícipe, incluído, cidadão respeitado.

Particularmente, frise-se o significado todo especial de se ter a sensação de retirar a figura feminina da cozinha, do fogão e da lavanderia. Claro que isto não resolve problemas como por milagre, mas passa para todas as mulheres a inefável sensação de poder e de resgate do profundo poço onde historicamente estiveram.

Note-se, também, e para se fazer justiça, a espetacular grandeza de mudança de comportamento de muitos e muitos homens, pois é possível constatar a atitude de finesse e de aconchego, de encantamento mesmo, ao receber e acatar uma mulher. Uma mulher cujo companheiro é o ideal, o conhecimento, a técnica e a ciência. E sentir a imensa poesia da suposta fragilidade de um ser feminino passando em revista as tropas.

A figura feminina teve seu dia de glória e a figura masculina não mais fez caras e bocas, nem gestos de desprezo, ironia e insolência. Mais uma aula ministrada pelo símbolo POVO.

Estes arroubos românticos de mulher não me sufocam e nem me fazem pensar que o Brasil está agora salvo, ou que, de agora em diante, só as mulheres governarão. Em seu discurso, além de tantos pontos vitais, a presidenta _ como prefere ser chamada _ acertou ao dizer que a ação de cada indivíduo em harmonia com o governo é que construirá um país melhor. Passou o tempo em que se pensou ser um presidente uma espécie de deus, de herói.

Pela parte que me cabe, além de ser mulher, agradeço pelos professores e pelas professoras, “verdadeiras autoridades da educação” _ do que jamais tive dúvida de tipo algum.

Alexandre Garcia, ao iniciar a cobertura da posse presidencial de Dilma Rousseff, referiu-se ao local onde os presidentes do país pronunciam seus discursos. Em sua fala, o repórter acrescentou que, naquele parlatório, apresentou-se a seleção campeã do México e daí o telespectador poderia imaginar a importância do dispositivo. Não seria exatamente pelo contrário? Não seria a seleção mexicana muito importante por ali apresentar-se? Quando a nossa mentalidade entenderá a diferença de significado entre um presidente, um professor e uma seleção de futebol?

taniameneses
Enviado por taniameneses em 02/01/2011
Reeditado em 02/01/2011
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