Mendicante

Estávamos em um bar. Um mendigo passava, mas deu meia-volta e parou diante da porta. O proprietário amarrou logo a cara. Isso não o conteve porque o álcool movia a música e o coração do mendigo. Ele entrou, pediu uma dose de cachaça e ficou porali. O dono do bar se aproximou, pegou-lhe pelo braço e o pôs para fora feito cão sarnento.

No outro lado da rua as bolsas iam e viam. Notava-se a presença pequena de bolsas ecológicas. Ele continuou a sua mendicância. A esmola era a de sempre: magra, áspera, fria, vazia; tornada apenas um hábito pálido por causa das ideias cristãs.

O camelô pirata, com seu som estridente, tocava uma brega.

Movido pela música, dançava com uma parceira fora de ritmo, expondo um riso cariado. Algumas pessoas riam, outras; desprezavam-no, enxotavam-no.

Depois das risadas e do desdém, as migalhas iam sendo depositadas em sua bolsa e ele seguia seu caminho abraçado de Dionísio, escárnio e ruindade.

Ron Perlim
Enviado por Ron Perlim em 02/01/2011
Código do texto: T2705477
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.