Mendicante
Estávamos em um bar. Um mendigo passava, mas deu meia-volta e parou diante da porta. O proprietário amarrou logo a cara. Isso não o conteve porque o álcool movia a música e o coração do mendigo. Ele entrou, pediu uma dose de cachaça e ficou porali. O dono do bar se aproximou, pegou-lhe pelo braço e o pôs para fora feito cão sarnento.
No outro lado da rua as bolsas iam e viam. Notava-se a presença pequena de bolsas ecológicas. Ele continuou a sua mendicância. A esmola era a de sempre: magra, áspera, fria, vazia; tornada apenas um hábito pálido por causa das ideias cristãs.
O camelô pirata, com seu som estridente, tocava uma brega.
Movido pela música, dançava com uma parceira fora de ritmo, expondo um riso cariado. Algumas pessoas riam, outras; desprezavam-no, enxotavam-no.
Depois das risadas e do desdém, as migalhas iam sendo depositadas em sua bolsa e ele seguia seu caminho abraçado de Dionísio, escárnio e ruindade.