Emoções natalinas e a verdadeira amizade

Dezembro, decididamente, não é o meu mês preferido. Sinto que a maioria dos desejos de felicidades, de amizade, de amor, de generosidade, preocupação com os pobres, doentes e carentes, com data marcada, são mais protocolares do que sinceros. Tudo muito comercializado, muito artificial para o meu gosto. A mídia, adoradora do seu deus-dinheiro, nos impinge este comportamento forçado.

Acho que esse sentimento ou essa interpretação que faço me deixa arredio, desconfiado e me limito a me comunicar com pouquíssimos amigos e a minha família, claro.

Não devo estar muito errado, pois, estatisticamente, tem se demonstrado que neste período de festas natalinas as explosões de raiva e irritação aumentam muito. Emoções à flor da pele, com sentimentos conflitantes, que surgem, talvez, em hora errada.

Dirão os leitores: - mas isso é hora para ficar birrento, falando de insinceridades?

- Não, mil vezes não – direi eu. E não falarei mais sobre isso, não por educação, mas porque belas lembranças surgem na minha mente, apesar do fim do ano.

É que acabo de receber uma mensagem falando de amigos. Sim, há amigos. Aquela velha piada do orador começando o seu discurso: “Meus amigos, não há amigos”, não corresponde à verdade. Não foi meu corpo que se arrepiou, mas a minha alma. A mensagem vai se desenrolando e nos lembrando de todo o tipo de amigo. O amigo do passado longínquo, o amigo de ontem, o amigo de hoje, o amigo de uma hora atrás. O amigo-pai, o amigo-filho, o amigo de sempre, o amigo de todas as horas, o amigo de sangue, o amigo distante. E eu acrescentaria, nestes tempos modernos, o amigo virtual.

Para quem já teve um amigo de verdade, o que vou falar soará bem familiar. Tive dois amigos verdadeiros. O sentimento maior de uma amizade verdadeira é o de inteira liberdade para dizer qualquer coisa sem medo e sem qualquer vergonha, porque o verdadeiro amigo jamais lhe julga, ele antes de tudo entende e compreende.

Dificilmente alguém nesta vida não teve pelo menos um amigo de verdade. O amigo da rua, o amigo da escola, o amigo da Faculdade, o amigo do trabalho.

E a sensação de liberdade que o amigo nos oferece é única e só com ele, o amigo, é possível mostrar-se por inteiro, sem maquiagem, sem retoques. Só a ele confessamos, falamos a verdade. Confessamos porque temos a certeza de que seremos absolvidos. E somos absolvidos pelo simples fato de que o amigo acredita mais em nós do que nós próprios.

Já li e reli muitos textos falando da importância de se ter um amigo. Li desde autores clássicos e antigos até os mais modernos, incluindo textos anônimos.

O sentimento da verdadeira amizade transcende em muito a nossa vidinha vulgar e a gostosa sensação que nos dá é de difícil explicação. E como fica difícil descrevê-la. Só quem já teve um amigo pode sentir o que estou tentando dizer.

Leio o nosso eterno poeta Vinicius de Moraes e lá pelas tantas ele vem com essa pérola: “ Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive”.

É fácil saber se temos um amigo de verdade por este pequeno e grandioso detalhe: O tempo não passa quando estamos em sua companhia e sua presença não nos incomoda nunca. E é por isso que são raros e quando surgem em nossas vidas são verdadeiramente indispensáveis, fazendo a vida valer a pena.