LAPSOS DE MEMÓRIA

Poucos são as pessoas que realmente encaram a falta de memória como uma questão preocupante. Geralmente, aquele que apresenta lapsos de memória é tratado como uma pessoa engraçada. Cujo mal é visto nos meios sociais, como algo sem importância. Entretanto, para quem vive essa situação a vida não é fácil. Para mim, sempre foi um “problemão”. Desde criança, bastava acontecer algum fato mais estressante, para eu esquecer tudo mais. Deixava os apetrechos escolares na escola. Nas provas, era comum não colocar meu nome no cabeçário. No trabalho, volta e meia, não registrava a entrada, ou saída. Lembro-me de um dia, que iniciei uma aula e depois de 15 minutos, os alunos me alertaram que eu não era professor daquela turma. Pasmem, estava na sala errada!

Esquecer o carro no serviço e ir para casa a pé, não posso dizer que seja rotina, mas já aconteceu algumas vezes. Fechar o portão e deixar o carro de fora, também já aconteceu. Tentar entrar no carro do vizinho, ou mesmo esquecer o local onde estacionei, e também, esquecer o endereço dos amigos foi sempre uma constante. Quando mudei de casa, demorei a acostumar com o novo endereço, passava pela nova casa e seguia direto. Certo dia, eu entrei na minha antiga casa e deparei com o novo morador na sala, sorte que ele era conhecido meu e depois de muitas explicações, tudo acabou bem.

Ademais, era desleixado com outras coisas domésticas. Na minha casa, a organização sempre ficou por conta da “patroa”, desde a compra de um alfinete, até do carro, a escolha de minhas roupas e outras coisas mais. Nesse quesito, meu trabalho, foi somente o de pagar as contas. Depois que comecei a lecionar minha memória melhorou muito, contudo, ainda continuo esquecido. Entretanto, passei a organizar melhor a vida, procurando guardar as coisas sempre no mesmo local. Acredito que o próprio exercício intelectual, em estar sempre estudando, levou-me a exercitar mais o cérebro, melhorando a memória. Interessante, na minha área profissional, não esqueço facilmente, vejo uma lesão uma única vez e dificilmente esqueço as suas características, trabalho na área de patologia bucal.

Por outro lado, esse meu desleixo, ocasionou muitas brigas conjugais. Assim, não tive outro jeito senão organizar a vida melhor, para não perder a companheira de tantos anos. Hoje, ainda cometo muitas gafes, mas melhorei bastante! Evidentemente, que não consegui debelar totalmente o problema. Procuro compensar aquilo que não deu para modificar. Como vê caro leitor, minha vida não tem sido um mar de rosas, mas posso dizer que mesmo assim, sou quase feliz, apesar dos pesares!

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 06/01/2011
Reeditado em 07/01/2011
Código do texto: T2713397
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