Por que não reconhecemos a beleza e o valor do considerado “comum”?

Cortaram-me o coração ao ver na caixa de lixo o pequeno arbusto com suas flores amarelas prestes a murchar. Quis logo saber de quem tinha sido aquela maldade.

Há alguns meses atrás o arbusto nascera sem necessitar de semeadura. Parecia uma planta qualquer sem serventia, mas ninguém mexeu e ele ficou lá. Foi crescendo e eu de vez em quando olhava para ele de forma indagadora, me perguntando que espécie de vegetal seria aquele.

O tempo passou e uma bela manhã me surpreendeu admirando belas flores amarelas. Estava satisfeita a minha curiosidade: O pequeno arbusto floria! Fiquei contente por nenhuma pessoa tê-lo arrancado. Afinal, não era uma planta sem função. Suas flores amarelas enfeitavam a manhã e isso era maravilhoso.

Agora, na caixa de lixo lá estava ele com suas inúmeras flores amarelas.

Quem foi?

A minha secretária do lar se desculpou por não saber do meu interesse por um simples de pé de mato. Era uma planta qualquer, que nascia em todo lugar. Se eu estivesse chateada que não me preocupasse, pois com certeza o “pé de mato” nasceria novamente.

Meu marido ratificou as palavras da minha secretária. Era somente um mato. Caso eu quisesse, ele prepararia a terra para eu plantar um jardim. Plantaria então roseiras ou outras espécies de flores. Gesticulei uma palavra negativa. Passava o dia inteiro fora de casa. Quem cuidaria desse jardim? E depois, em minha opinião o arbusto florido não era um mato sem valor. Possuía inúmeras flores amarelas que abriam todas as manhãs, como se estivessem saudando o sol e todos que passassem por ele. Eram lindas flores amarelas!

Fui trabalhar ainda com o coração apertado e a lembrança das flores jogadas no lixo. Não conseguia compreender como uma pessoa tinha a coragem de arrancar uma planta carregada de flores tão bonitas! O pequeno arbusto estava em seu cantinho perto do muro e não perturbava. Ao contrário, compartilhava sua beleza nas manhãs.

A vida é assim mesmo, pensei. Vivemos dando importâncias somente às coisas que nos parecem raras ou que possuem alguma “marca”, “pedigree” ou quaisquer outros conceitos de valores. Eu sabia das marcas das roupas, dos sapatos, dos eletrônicos, dos carros, dos perfumes... Sabia das raças dos cachorros, dos gatos, dos cavalos... Porém, fiquei sabendo da pior maneira possível do critério das espécies vegetais. Para alguns ou quem sabe muitos, arbustos mesmo lindamente floridos não tinham significância.

E as coisas simples e belas da vida? Coisas que temos de graça e sem esforço?

Na maioria das vezes nós desprezamos, pelo mero preconceito de acharmos que não possuem valor.

Quantas vezes admiramos o sol e agradecemos o seu calor?

Quantas vezes apreciamos os pingos da chuva e reverenciamos seu ciclo de vida?

Quantas vezes nos alegramos com o vento acarinhando a nossa pele e reconhecemos o seu papel fundamental no alívio da alta temperatura térmica?

Quantas vezes deixamos de retribuir um sorriso?

Quantas vezes percebemos a grandiosidade humana nos pequenos gestos de afeto e solidariedade?

A vida é realmente assim. Querendo ou não, infelizmente ainda terei que ver muitos arbustos floridos sendo arrancados e jogados ao lixo, apenas por não serem de uma espécie vegetal “considerada” importante.

Felizmente ou infelizmente, meu coração ainda vai sofrer muito por isso...