A ADOLESCENTE

Andava pela rua, cabisbaixa, quieta, um ar sereno de quem vive isenta de problemas em meio à atmosfera insegura de nosso tempo.

Passo na cadência de uma ginga que estremece o corpo frágil de traços perfeitos. Ela desfila na passarela da “Marechal Rondon”.

Os cabelos negros, longos, alvoroçados pelo vento fúnebre de agosto, pareciam saudar o espaço livre.

Nos olhos, a sociedade com o mar, na cor, na paz serena que nos espalha um verde bonito. Egoístas, seus olhos negam ao próximo a ventura de mirá-los e fogem assustados buscando uma visão longínqua ou o chão tão próximo.

A face, de um róseo primaveril, estampa a insensatez de seus poucos anos, e, por vezes, uma nuvem vermelha encobre-a na timidez do seu tempo.

Os lábios fechados, mimosos, calam na boca o som celestial de sua voz suave.

Vez em quando, por um acaso do destino, ou uma piada tola, o ar fechado é vencido por um sorriso de dentes brancos, perfilados na disciplina rígida de sua boca. E o sorriso gratuito enche o ar de uma alegria contagiante.

Assim, ela passa para o almoço, como ontem, como hoje, como amanhã, na rotina imposta pela necessidade do trabalho que não perdoa nem mesmo a mais fina flor na poesia do dia a dia.

Gilson Lira
Enviado por Gilson Lira em 09/01/2011
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