BANDEIRA DE ROÇA

BANDEIRA DE ROÇA

Em nossa região, por ocasião do término da capina do milho, era comum a festa da "Bandeira deRoça". Para o dono da roça e sua família, terminar a capina do milho era motivo de orgulho e muita festa, principalmente,se os vizinhos ainda estavam com a roça "no mato". Para aqueles que não conseguiam fazer essa capina antes do natal, dizia-se que o João Baca iria fazê-la. O João Baca ou simplesmente Baca era representado por um grande boneco, que era colocado na roça não capinada, com a finalidade de zombar do seu dono.

Dona Conceição, esposa do Zé Bananal, na véspera do dia de " dar a bandeira", como diziam, já estava muito atarefada. Não era para menos, pois, aguardava no dia seguinte uns vinte companheiros para o término da capina. Já prendia os patos e os frangos, que iriam enfeitar a mesa do grande dia.

Na fazenda Baía, do ZéCarneiro, foram comprados dois garrafões de pinga. A Teresa do Ambrósio, a Maria Canuta e o Zé Lucas já estavam convidados para ajudarem a preparar a saborosa comida. Chegou o tão esperado dia. Lá pelas seis horas, começou a chegar o pessoal, cada um com sua enxada no ombro. As chaleiras ainda fumegando com o café quente, de rapadura, já estavam postas nas tarimbas de bambu, que iriam servir de mesas. O café seria servido nos copos esmaltados. As gamelas com as broas, também, faziam parte da mesa. Cada um que chegava já fazia a saudação: " Bom dia Zé Bananal, bom dia D. Cenção, bom dia " pro cês todos!".

Os donos da casa já iam servindo o café para o pessoal e dizendo que quem quisesse "quebrar" o bico dos garrafões, era só pegar o cuité e servir-se da branquinha. José Marçal, José de Jovita, Antonio Modesto, Juarez, Antonio Correia e Jacinto de Colodino (Claudino) não se fizeram de rogados... às sete horas, todos já estavam no terreiro e o Pedro Roberto abriu o expediente: "Ô gente, vamos trabalhar, porque se a capina não terminar, hoje, o Antonio Roque vai rir muito, pois ele disse que no Baía não tem homem para terminar o serviço hoje." As palavras do Pedro encheram de ânimo a turma, que partiu para a jornada.

Chegando à roça do milho, cada um foi "pegando" o seu beco. Quando todos já estavam prontos para começarem a capina, o chico Lucas fez o sinal da Cruz, gesto que foi acompanhado por todos. A partir daí, ele puxou o jongo (canto próprio para a ocasião) cantando um verso, que era respondido pelos outros companheiros, formando um coral que era ouvido em toda a vizinhança. O canto continuou até a hora do almoço, quando chegaram duas pessoas, cada uma com a gamela na cabeça. Como era dia de festa, as gamelas estavam cheias com um almoço melhor: angu, arroz (socado no pilão), frango frito, batata doce e couve catada. O Zé Bananal chamou a turma para o almoço: - Ô pessoal, vamos almoçar, porque temos que acabar esta capina até as três horas!" Cada um pegou um prato fundo esmaltado, e foi se servir da gostosa comida. O Bananal serviu um bom gole de pinga para os camaradas. Terminado o almoço, a turma pegou duro na tarefa. Ao meio dia , café com broa e inhame cozido. O jongo comendo quente. Às três horas da tarde, terminaram a capina e descansaram um pouco. O Zé de Jovita andou um pouco por entre os becos e encontrou um belo pé de milho. Este pé de milho seria a bandeira, oferta à dona da casa, D.Cenção. Jacinto de Colodinoficou encarregado de levar a bandeira. Ele foi à frente da turma, todos cantando. Quando chegaram ao terreiro da casa, Pedro Roberto cantou:

" Senhora dona da casa,

Sai prá fora, por favor,

Venha ver a bandeira,

Que a sua roça mandou! "

A D.Cenção saiu da casa, recebeu o pé de milho e depois de muito aplauso, convidou a todos para o jantar.O que rolou de pinga boa e comida gostosa na casa do Zé Bananal naquela tarde, não estava escrito !

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 10/01/2011
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