NORDESTE, UM "PAÍS" TÃO BELO QUANTO CARO.

     Viajar é a minha curtição favorita. Por algum tempo habituei-me a “pegar a mochila” e sair por aí descobrindo mundos em chãos diversos. Claro, aqui no Brasil, que está de bom tamanho para curiosas e divertidas aventuras em longas viagens. Algumas, não muito distantes, foram as primeiras, ali pelas belezas naturais do vizinho Goiás: Caldas Novas, com suas piscinas térmicas, seus chalés disputadíssimos; Itiquira e sua famosa cachoeira a jorrar um turbilhão de água fria e límpida entre pedras e verdes paisagens; a Chapada dos Veadeiros, tão deslumbrante quanto desconhecida, imperdível para quem realmente curte um local aprazível e, por enquanto, pouco habitado pelo bicho homem. E tem Pirenópolis, uma cidadezinha encantadora, invadida por visitantes nos feriados prolongados, principalmente no Carnaval. Dizem as más línguas que por lá rola muita droga, mas eu não percebi isso. O lance teve seu auge nas décadas de setenta e oitenta, segundo me contou um hospedeiro. Mesmo assim, meus pais sempre tiveram algum receio de eu ir à Pirenópolis, por acharem “estranho uma pequena cidade do interior ter um carnaval tão badalado”.... Bem, isto é outro assunto. Minha viagem é outra.

     Nos percursos mais longos, de carro, lá pelas bandas do Nordeste por onde transitei, é que pude perceber a real dimensão deste país. Horas e horas contemplando paisagens que ladeiam estradas intermináveis, sem que se veja um só vilarejo, uma só casa além de eventuais casebres de taipa, cobertos de sapê. Daquela vegetação ora rasteira sobre uma planície, ora exuberante pela variedade de árvores nas encostas, ou sobre os morros onde se agitam altíssimas palmeiras perfiladas, vem no soprar do vento um cheiro de folhas verdes a misturar-se com o odor de terra úmida, adubo nos canaviais, ração de gado. Tudo é um prazeroso afago aos meus sentidos.

     Indo ao litoral, alvas e ardentes areias bebem água dos “verdes mares” em toda a extensão oceânica. O meu deslumbramento com o mar não é menor que o infinito céu a curvar-se para alcançá-lo, na miragem de um beijo que eu vejo. O mar de Iracema, o mar de Amaralina, o mar de Olinda, o mar de Boa Viagem, de Porto de Galinhas, o mar em Ponta Verde, o mar... o mar...
o mar quando quebra na praia é bonito." (Dorival Caymmi).

     Tão mais atraentes quanto bonitos seriam esses passeios se não houvesse tanta exploração aos turistas. Na orla central os hotéis são bons. Alguns luxuosos, e disso eu não me queixo. Nas praias distantes, tudo exorbitantemente caro, quase sempre incompatível com a infra-estrutura do local. Porto de Galinhas é motivo de reclamações até pelos pernambucanos. Preços altos para pouca qualidade nos serviços. Neste setor, Fortaleza está na frente de todas as capitais nordestinas. É lá que se encontra a melhor infra-estrutura na orla marítima, surpreendentemente bela e eficiente. O mais, em outras cidades, é muita exploração por conta da fama e pouca qualidade nos serviços.

     Aliás, por conta da fama, percebo certa injustiça da mídia, ou sei lá de quem mais em relação aos carnavais de Recife e de Salvador. Para mim, o frevo é incomparavelmente mais atraente, emocionante e autêntico. É ele que ainda preserva a tradição do carnaval de rua, com fantasias, blocos e tudo mais. Não vejo graça naquele carnaval de trio elétrico que já acontece todos os meses em diferentes capitais, além de Salvador. Que me perdoem os baianos, de cuja terra eu também gosto. Digo aqui que o Nordeste inteiro é maravilhoso. Mas é um “país” tão belo quanto caro.

     E pensar que se vai à Argentina, curte-se o melhor de Buenos Aires com a metade do valor que se gasta em alta temporada no Nordeste brasileiro. O governo tem que olhar pra isso, se é que o Ministério do Turismo funciona.

     Viajar é bom. Retornar é melhor. É uma sensação tão agradável quanto a alegria de chegar a um desconhecido pedaço deste imenso país.

     Sobrevoando a vastidão da mata, avistando em quadrilátero as demarcações do imenso tapete verde, revejo o planalto. O lago, a ponte, as asas do avião de concreto, onde outro, em voo rasante, vai pousar.



Fotos,Google.
1. Chapada dos Veadeiros -Goiás
2. Porto de Galinhas -Pernambuco.


LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 10/01/2011
Reeditado em 11/01/2011
Código do texto: T2720989
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.