NA SALA

A chuva acabara de chegar trazendo em seus pingos o som plangente de uma melodia cujo ritmo invadiu o meu ser já cheio de contradições rítmicas.

Sentei-me num canto da sala, onde alheio aos acontecimentos da aula, transportei-me nas asas do tempo a um passado não muito longínquo.

Maldizendo o tempo que a escondeu de mim durante tantos anos, fitei-a, imaginando-a minha, como se negando a própria fatalidade do destino e renegando até mesmo a liberdade que lhe aflora o riso. Invejo o seu sorriso, pois nele encontro uma mensagem que inexiste em mim.

De seu olhar o brilho que surge em meio às trevas de minha solidão, o grito de alegria do escravo liberto, o esplendor de uma flor que nasce.

Tão perdido estava que mal notei a fuga da chuva. No entanto foi a sua quietude que me trouxe a sua lembrança, e esta, por sua vez, trouxe-me à realidade, acordando-me do sonho impossível que ganhava forma nestas palavras, nós...

Gilson Lira
Enviado por Gilson Lira em 12/01/2011
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