PERSPECTIVA

Muito difícil a determinação vencer a todas as barreiras quando sonhamos com o mundo todo, virando a cada esquina, começando cada semana ou mesmo para o final de semana mais próximo.

Quando mais jovem fui exatamente assim: o mundo sem barreiras, os cursos na Panamericana de Artes, a artista plástica de destaque que eu me tornaria e com isso viriam as viagens ao exterior ou por aperfeiçoamento ou mesmo para expor meus trabalhos.

Sonhava com o Egito, com Paris e alguns países orientais. Sonhava também com ilhas paradisíacas a se visitar.

Meu futuro seria feliz e perfeito.

O homem bem mais velho que eu conheceria e conheci não levou-me ao altar.

Acabamos nos perdendo pelas etapas da vida, só da memória que não. Ele foi meu príncipe encantado de quem nunca mais ouvi falar, só meu coração o manteve vivinho por mais de 40 anos. Graças à milagrosa internet localizei-o por insistência de minha filha mais velha, mais sonhadora, mais romântica e através do filho dele eu descobri que ele estava lá, na mesma alameda que eu sabia ser da família.

Quando obtive a primeira resposta, descobri como não devemos lastimar por nenhum leite derramado e que também não podemos mudar o curso da vida. É uma característica positiva de minha personalidade, pois quando envolvo alguém mais em meus planos ou sonhos ou "querências", sou branda. Saio de cena na hora certa, nunca forcei barras e nem implorei, sempre soube aceitar os nãos.

Essa minha maneira de ser confirmou que não se luta contra os caminhos traçados.

Ao entrar na página que me daria notícias desse alguém que me foi tão caro, sofri um choque. Na página em letras negras a palavra LUTO. Imediatamente pensei que ele seria a perda dessa família, mas triste engano. Toda perda é triste e ao ler a homenagem escrita pelo seu filho, compreendi que há três meses perdera a irmã e meu amado do passado a sua filha quase da idade da minha. Em tempos distantes sofri sua ausência com o término de algo que para ele fora nada e que para mim um tormento de lágrimas e saudades.

Tudo passa e passou.

Segui outros rumos, acertei e errei muito, mas tenho filhos amados, um casal também.

Imagino se eu insistisse e nós tivéssemos nossos filhos?

Ele foi o amor inesquecível, meu sonho de Cinderela. Eu com 16 anos e ele 32. Os meus filhos seriam outros e quem sabe eu teria ficado sem minha amada filha, cúmplice, companheira. Meu filho, meu amado, meu trovão, chuva de verão.

Viram como Deus nos manda os quebra cabeças?

Olhando pela janela do quarto dos fundos do sobradinho aonde moramos, peguei-me com pensamento longe num céu até nublado.

Agradeci a Deus e à vida.

Não virei a artista plástica sonhada, não viajei (só para o Japão). Não fui tão bem sucedida como programei.

Nada de Rio Sena e nem as Pirâmides do Faraó.

Tenho alma de artista, pois as artes são minha paixão e sabe o que é mais gratificante? É que para eles (meus filhos) sou incrível e amam tudo que faço.

Quando mudo a perspectiva da minha vida, muda tudo.

Sou a autora e artista desta minha vida sem muitas emoções. Dois casamentos desfeitos, porém com o saldo de dois filhos lindos e dois netos, um com sete meses e outro a caminho.

Aprendi ainda mais: a não querer mais do que a vida é capaz de me dar e que só temos a medida certa do que merecemos.

Conserve a perspectiva do que apenas é preciso e merecido.

Claire Fernandes
Enviado por Claire Fernandes em 12/01/2011
Reeditado em 23/10/2011
Código do texto: T2724219
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