QUANTAS VEZES EU TENTEI FALAR

Hoje já não sei como explicar o nosso fracasso. Só sei que culpado não fui.

Uma vez, lembra-se? Tentei mostrar-lhe o valor de ser jovem, de ser alegre, de ser bom, e fui taxado de bolha, missionário e outros adjetivos que se perderam no tempo.

Quando daquela vez tentei falar dos meus sentimentos, não pensei que o descaso fosse desabar sobre mim com tal furor como desabou.

E as palavras chegaram-me como pedras a ferir na alma o sentimento puro. Lutei contra a sua indiferença numa luta inglória, cheia de tropeços e caí.

Anos e mais anos passaram-se e você voltou falando de um novo tempo, das lições que a vida lhe ensinou, de noites mal dormidas, de saudades, da vontade de ter o que não quis e de querer o que já não pode.

O tempo lançou-me nos braços de outro alguém, e você permaneceu sozinha, acorrentada ao seu orgulho doentio.

Agora, despida dos erros da juventude, regressa em busca de momentos que já não posso dar, e fitando-me a fundo busca responder perguntas já mortas em meu passado.

Enquanto retornava ao meu caminho, uma lágrima percorreu-lhe rápida a face enrugada pelo tempo, e um lamento ouvi ainda de seus lábios trêmulos: “Quantas vezes eu tentei falar, mas...”

Gilson Lira
Enviado por Gilson Lira em 12/01/2011
Código do texto: T2724223
Classificação de conteúdo: seguro