Eu sei, todos passam por isso!

Quando escolhemos uma profissão entre todas as que nos são apresentadas, não temos ainda (com raras exceções) noção do que realmente nos espera. E não falo do dia-a-dia da profissão, mas, sim, da tarefa árdua que é até que consiga o tão sonhado diploma. Não sei se muitos concordarão, mas a palavra que mais me tem assombrado nos últimos tempos é: estágio. Claro que sou dramático e as coisas talvez nem sejam tão intrincadas quanto darei a entender, entretanto, vale ressaltar, que este é o MEU pondo de vista em relação ao tema.

Terminei meu contrato com o IBGE em novembro de 2010. Era um emprego temporário que me dava uma razoável remuneração e muito tempo ocioso. É sempre bom ter esse tipo de oportunidade, porém, existe o lado negativo. Você acaba adquirido o mau costume de não trabalhar, acostuma a fazer tudo do seu jeito sem ter quem critique severamente e perde a rigidez e disciplina com horários. Não estou dizendo que todos os funcionários públicos temporários passem por isso, mas esse foi o meu caso.

Ao voltar a procurar emprego na área a qual trabalhava antes do concurso, vendas, por telefone, percebi que a realidade não estava muito diferente, mas eu havia mudado. Em primeira instância, sem sombras de dúvidas, constatei que já deveria estar formado. Não só para desfrutar dos benefícios de ser um profissional formado, mas também para mudar completamente de foco em relação à vida profissional. Entrei e saí de alguns treinamentos até que entrei em um que me chamou muito a atenção. Afinal, este último estava relacionado ao produto que trabalhara anteriormente, há aproximadamente um ano atrás, NET.

Mas, como que por uma sinecura do destino (amo essa frase de Humbert, Humbert) na mesma época de treinamento, que é a porta de entrada para o treinando de vendas, surge o "bendito" estágio. Assim, optei por deixar o emprego para que pudesse concluir a carga horária obrigatória.

Concordo que esta seja uma parte fundamental para a formação do profissional. Já havia passado por isso antes também, quando cumpri parte da carga horária estabelecida para o primeiro semestre do meu curso, chamada de câmara escura. Aprendi muito com os profissionais mais experientes e pude tirar muitas dúvidas até de assuntos relacionados a concursos.

Ao fim do ano passado, fizemos uma prova para selecionar uma lista de alunos que poderiam fazer estágio no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, Rio de Janeiro. Como eu estava entre os que fizeram a prova, consegui a vaga lá. Eram 20 vagas, entretanto, apenas 15 alunos compareceram. Acho muito intrigante quando vejo as pessoas falando que tudo na Radiologia é mais difícil e como as vagas são disputadas a tapas. Minha primeira impressão, após esse concurso para determinar vagas de estágio, é que a realidade não é tão cruel assim em se tratando de competitividade. Algumas das questões que errei eram de matérias que ainda não tive em minha grade curricular e, entre os candidatos, já havia alunos formados, ou melhor, que já tinham concluído o curso, mas dependiam do estágio.

Quando me deparei com a listagem dos documentos que deveriam ser apresentados uma semana após a realização da prova, surtei. Era simplesmente impossível realizar tal tarefa, visto que alguns dos itens deveriam ter sido requisitados na secretaria com um mês de antecedência.

O ano se passou e nada aconteceu. Até que, ouvindo alguns comentarem sobre o tal desejado estágio, decidi, por vontade própria ir até o referido hospital.

É realmente impressionante quando notamos que determinadas pessoas não se adaptam a ambientes específicos e, em contrapartida, como parecem existir pessoas que foram feitas para estar ali. Ao chegar no hospital, além da euforia natural que sempre sinto, coração acelerado, pelos arrepiados, lágrimas nos olhos e profunda comoção. Toda essa sensação simplesmente desaparece ao entrar pelas portas semi-automáticas e sentir o cheiro de um suave ar condicionado misturado com álcool, éter, soro e alguns produtos de limpeza que parece que todo hospital adquire do mesmo fornecedor. Como de costume, fui acometido de um estranho bem-estar e todo o fluxo sanguíneo do meu corpo pareceu estacionar. Depois, não me sentia nem bem, nem mal, só senti vontade de trabalhar (quem me conhece, sabe que isso é muito estranho).

Ao perguntar sobre a radiologia e receber uma bufada da recepcionista, desci um andar em uma daquelas rampas características (cadeiras de rodas, macas) e, enquanto andava pelos corredores, pensava sobre o porquê de ser tão difícil estar ali, trabalhando como um profissional e após alguns segundos de reflexão, constatei que não era tão difícil assim, já que eu estava caminhando pelos corredores de um hospital novamente e, dessa vez, não era um paciente. Metade do caminho talvez já estivesse completa.

Meus pensamentos foram subitamente interrompidos pelo estridente e lancinante grito de uma desesperada mãe que via seu filho passar por algo que não discerni bem o que era. Então, acordei para a minha realidade e corri até o primeiro homem de branco que avistei.

Ele fora estranhamente educado (em comparação com outros funcionários) embora não tenha me dado boas notícias. Disse que a escola ainda não havia passado a listagem dos alunos e que eu deveria procurar a secretaria para resolver o problema. Voltando novamente a atenção para aqueles que me conhecem. Pra mim, resolver problemas e ir à secretaria são dois períodos que não se encaixam com concordância na mesma oração, a não ser que seja com a finalidade de causar risos.

Ao chegar na secretaria, confirmei minha teoria dos risos. Com toda destreza e postura, mostraram por A mais B que a escola estava com toda razão e que os responsáveis pelo imprevisto eram os coordenadores do Hospital. Como sou um homem sem fé, resolvi 'deixar pra lá', como todo bom brasileiro, os pontos relacionados aos meus direitos de aluno. O que quero é me formar e não pretendo começar o curso novamente só por implicância com a escola, certo? Diverti-me com o episódio do dosímetro, uma espécie de cartão que mede a quantidade de radiação depositada no profissional, que é obrigatória até para estagiários. Como fiz o pedido ano passado, fui premiado com a chegada do meu essa semana. [sarcasm mode on] Fui informado que deveria pagar um calção de R$ 40,00 e um valor de manutenção de R$ 15,00/mensais. Ao fazer a retirada do meu cartão, fui cobrado dos R$ 15,00 da primeira mensalidade. Como não tinha dinheiro no momento, afinal, estou desempregado para realizar o estágio, optei por pegá-lo no outro dia, antes de ir para o hospital. Chegando no outro dia, em uma escala de atendimento diferente na secretaria, parecia que me encontrava em outra escola. Retirei o dosímetro sem ter de pagar valor nenhum. Risos.

Enfim, encurtando minha trajetória, depois de idas e vindas, fortunas gastas em cópias para documentos, que até agora não foram nada úteis, seguro, dosímetro, papéis, papéis e papéis, resolvi minha vida e consegui o plantão as segundas pela manhã. Com apenas alguns minutos no corredor do ambulatório, consegui analisar um pouco as pessoas que lá estavam. Alguns alunos que estudaram comigo, um vendedor de numeradores e livros que desprezo com todo meu desdém, afinal, ele só tem interesse em nos explorar. Quando quero comprar algo relacionado à profissão, procuro uma loja especializada. Consigo preços melhores e não me sinto usado. (Mesmo que ainda esteja sendo usado pelo sistema, a sensação é menor) Alguns olhares, risos, cinismo, empatia, afinidade. Com certeza ainda farei muitos amigos, mas espero também inimigos. Afinal isso também existe em todas as outras profissões. Em todas as áreas, todos passam por isso!

Prima
Enviado por Prima em 14/01/2011
Código do texto: T2729850
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