Pouca vergonha!

Era um casal fora dos padrões da moral e dos bons costumes. Escandaloso e mal falado. Execrável! . Um mau exemplo para as famílias direitas ou assim consideradas. As venerandas senhoras viravam o rosto e proibiam as crianças de se aproximarem. As moças puras, prendadas e respeitáveis se benziam quando os viam por perto e se afastavam, talvez com medo, quem sabe, de se contaminarem com tanto pecado e descaramento, que os dois não faziam a mínima questão de disfarçar. As vezes brigavam. Briga feia, de xingamentos na base do baixo calão, se ofendiam e se rasgavam, escandalizando toda a vizinhança, moradores do mesmo prédio no modesto condomínio do velho BNH. Na maioria proprietários, inclusive o casal em questão.

Não respeitam nem as crianças! Alguém precisa fazer alguma coisa!

Não era raro que alguém chamasse a polícia com receio que eles acabassem se matando. Não que se importassem, mas, um escândalo assim, poderia desvalorizar o imóvel. O aptº 201 e o 404 estavam á venda. Seria um desastre...

Os policiais levavam os dois para a Delegacia, só para acalmar os ânimos, já era quase rotina.

Não demorava muito e estavam de volta. Beijando - se escandalosamente ainda na rua, com certeza, para provocar as moralistas de plantão.

-Pouca vergonha! Para que servem as autoridades? As pessoas decentes são obrigadas a conviver com cenas de luxúria e sexo explícito. É constrangedor!

Os maridos não se envolviam. Aproveitavam o buchicho e saiam de fino, direção ao boteco.

Eram noites memoráveis. Suspiros e gemidos, gritos de prazer, juras de amor entre frases obscenas, cujo pudor me impede de publicar.

Enquanto os maridos dormiam pesado, efeito do cansaço e da cachaça, as respeitáveis senhoras não pregavam olho, ruminando ódio e muita inveja.