Gostosa

Mariana. a mulher mais gostosa da academia. possivelmente não só da minha academia. mas é gostosa com força mesmo. eu coço a cabeça nesse momento só de pensar. de novo. supostamente, diz minha imaginação, fruto de alguns vultos do ano passado, ela mora até no mesmo prédio que eu. mas nada comprovado. pertinho ela mora. mas no mesmo prédio, já não sei...

ela não sabe, mas aprendi o nome dela muito antes dela aprender o meu. como a típica loira gostosa de filme americano que ela é, ela fala com todo mundo. ela cumprimenta todo mundo. ela pára todo mundo. quer dizer, todo mundo para pra ela. e o povo a dizer "Mariana, Mariana, Mariana, ahhh Mariana!" com aquele olhar de quem contempla Helena de Tróia em toda sua glória. e ela como Helena de Tróia a contemplar vinte mil homens se decaptando e decepando por ela. com um sorriso simpático e sincero, e respondendo aos apelos da multidão com um sotaque de carioca. existe coisa mais provocante nesse planeta do que a mulher carioca? a Mariana, carioca, jeito de sapeca, de calça coladinha, sapatos brancos, pequenos pés delicados, pernas grossas, meu Deus, como são grossas, bronzeadas. a cintura fina. o melhor busto, com 95% de probabilidade, encontrado entre o Pão de Açúcar e Brasília. bronzeada. dentes brancos. lábios quentes. sorrindo. sempre sorrindo. olhos castanhos brilhantes. não preciso falar do resto. precisar preciso, mas é que se eu continuar nem Hegel, nem a Bíblia, nem o Corão, nem Tolstói, todos juntos, vão ser maiores que esse texto. é claro que eu já sabia o nome dela desde o começo do ano passado.

cada detalhe daquele corpo. daquela voz. acontece que o simples fato de avistar Mariana pode transformar os homens mais fracos em estátuas de sal. causar ataques de fúria e loucura extrema e descontrolada. paranóia. a mulher e a maçã. se Eva fosse Mariana, eu comia a árvore inteira, tronco, caule e tudo, se ela oferecesse. ela não, que isso... nua no jardim do Éden deitada com uma maçãzinha na boca... fazendo alongamento... o diabo nem ia ter tempo de arquitetar nada. ia querer comentar comigo alguma coisa do tipo: "rapaz ce viu? que mulherão... olha lá, olha lá", dando uma piscadinha com seu olho de serpente. e eis o fim do mal no mundo.

ah é, eu ia contar uma história, eu ia contar o quê? nem sei. precisa contar alguma coisa? Mariana. bronzeada... rebolando pela academia inteira. fazendo aula de spinning junto comigo. é claro que eu me tornei um assíduo frequentador da aula de spinning, há mais de um ano. no mesmo horário. ela tá lá. ela veio perguntar meu nome. com sua mania de cheerleader, quer saber o nome de todo mundo. a gente se fala pouquinho. eu não consigo conceber o fato de uma mulher tão gostosa como ela querer saber o meu nome e me cumprimentar. ela fala comigo e eu entro em êxtase. claro que eu não demonstro. eu só cumprimento de volta, frio, machão. calado. um cara na minha. ela comenta qualquer coisa comigo e eu só consigo dizer "hmmm... ééééé... hmmmm... hehe.... ahhh... ôôô..." e outras mais pronúncias de extrema complexidade linguística. meu cérebro não consegue funcionar diante daquela imagem viva, de carne (e que carne). meu sangue não para quieto no cérebro.

hoje mesmo ela comentou comigo que pra fazer aquela aula tinha que ter disposição. "vai fazer a segunda?" perguntei. "Deus me livre!" ela responde, e dá um tchauzinho de princesa de Mônaco, dobrando a mãozinha duas vezes, já de costas, virando o cabelo de miss contra a noite, indo embora, rebolando toda gostosa na sua calça apertadinha. as costas bronzeadas... foi isso que ela falou. hoje. mas nem se ela não tivesse falado nada. Mariana. até esse nome é delicioso. parece nome de doce da Kopenhagen. me dá aí uma Mariana com bastante chantilly. e é o único doce que queima caloria quando a gente come... quanto mais a gente come mais caloria a gente gasta.

depois o povo fala que é ofensivo. mas não existe outra palavra. ela é bonita. ela é simpática. ela é gente boa. mas convenhamos. acima de tudo e de todos, da gramática e da gíria, e de todos os verbos e pronomes e sobrenomes, ela é gostosa. não tem outra palavra, ela me ferve a cabeça, ela não vai me deixar dormir direito hoje. ela é carioca, ela é carioca, basta o jeitinho dela andar...

não tem jeito de acabar esse texto, Mariana! se eu pudesse eu mandava mudar a academia pra dentro do meu quarto. e aí, nem dez aulas de spinning num dia só iam fazer o mesmo efeito que eu. gostosa. alguém me segura que nesse tesão todo eu ainda morro do coração. será se um dia eu vou ter uma mulher igual ela? será se um dia eu a terei? é coisa de dar risada mesmo. imagina. que mulherão. sexo doze vezes por dia, ou mais.

Mariana. loira, gatíssima, carioca, bronzeada. o homem que não fica igual eu por um minuto sequer na vida quando vê uma mulher igual pode procurar um psicólogo. e eu é que tô doido! ora... céus. palavras são muito frias pra te descrever. você derrete na boca...