Envelhecência
Esther Ribeiro Gomes
Quando as marcas do tempo invadem o corpo e as primeiras ruguinhas surgem no rosto, tem início uma nova fase na vida que costumamos chamar de ‘terceira idade’.
Em excelente crônica, a escritora Lya Luft disse que a idade tem a ver com o modo como lidamos com a vida:
'Se considerarmos uma ladeira que desce a partir da primeira ruga, então viver é de certa forma uma desgraceira que acaba em morte. Desse ponto de vista, a vida passa a ser uma doença crônica de prognóstico sombrio.'
Depende de nossas atitudes diante da vida para mudar o enredo desse filme...
Na época das nossas avós, uma senhora de cinquenta anos vestia roupas discretas e ficava em casa bordando, lendo um livro ou cuidando dos netos...
Hoje a velhice é encarada de maneira bem diferente, as mulheres acima dos cinquenta usam roupas de cores alegres, bijuterias coloridas, maquiagens e frequentam as academias ou fazem plástica em busca do rejuvenescimento.
As viúvas, divorciadas ou solteiras da chamada ‘melhor idade’ vão a teatros, cinemas e restaurantes com as amigas ou acompanhadas de homens, às vezes, bem mais jovens e se divertem em boates ou nos barzinhos da moda.
Hoje em dia é comum encontrar pessoas de cinquenta ou sessenta anos cursando uma universidade, namorando e até casando de novo.
A palavra envelhecência não existe no dicionário, mas é preciso saber envelhecer com sabedoria, aproveitando a maturidade e experiência conquistadas ao longo da vida, sem esquecer o lado criança, conservando a alma jovem e o entusiasmo da adolescência.
Na maturidade da vida não se encontra a felicidade fazendo plásticas e malhando o corpo em academias, numa busca neurótica e obsessiva da juventude perdida, pois a jovialidade desejada não se obtém na perfeição do físico, mas cultivando um espírito jovem.
Certa vez li um texto deveras engraçado, contando a história de uma senhora idosa que foi fazer um cruzeiro num belo navio. Ela estava no convés segurando seu chapéu para que o vento não levasse,
mas se esqueceu de segurar a saia que levantou, mostrando sua calcinha... Um senhor que ia passando a repreendeu, dizendo:
‘A senhora fica segurando seu chapéu, enquanto suas pernas ficam expostas.’ Ela respondeu:
‘Tudo que o senhor está vendo da minha cintura para baixo, tem mais de setenta anos, enquanto que este lindo chapéu roxo, eu comprei ontem...’
É isso, a vida tem que ser saboreada intensamente em cada momento, com bom-humor e alegria, independente da idade fisiológica, pois, de que adianta ter um rosto esticado e um corpo ‘sarado’, sem aquele brilho no olhar que nenhuma plástica e academia conseguem dar...
Lya Luft disse sabiamente que se não soubermos rir, se tivermos desaprendido como dar uma boa risada, ficaremos com a cara hirta das máscaras das cirurgias exageradas, dos remendos e intervenções para manter ou recuperar a ‘beleza’.
A alma tem suas dores e para se curar necessita de projetos e afetos, precisa acreditar em alguma coisa...
Finalizando, eu diria que para recuperar a beleza da juventude, é preciso enfeitar a alma com pitadas de generosidade, bondade, amizade e, sobretudo, com muito amor!
Então, a tão desejada felicidade será realidade e alegrará o coração!