Banzé no estacionamento

Centro da cidade, hora movimentada, pessoas apressadas, carros duelando com suas buzinas e nós prestes a visitar uma propriedade com amplo estacionamento. Somente uma sala do estabelecimento funcionava, alugada para fins comerciais. As demais salas do prédio estavam desocupadas e o local era pago e utilizado por pessoas que trabalhavam ali nas proximidades.

Solicitamos à funcionária presente que o portão fosse aberto para executarmos a inspeção. Ela, muito educada, nos emprestou a chave do portãozinho ao lado para não precisar acionar o portãozão principal, automático.

Ao entrarmos percebemos que um carro chegou e o portão maior foi aberto. Um rapaz dirigia e levou o carro até o fundo. Percebi neste momento que, apesar do lugar ser grande, o número de carros estacionados era pequeno.

De repente, chegou um carrão importado cuja motorista bufava e xingava ao volante, tentando - e não conseguindo - subir a rampa de acesso. A mulher atolou o pé no acelerador, cantou pneu e a impressão era de que o motor ia explodir com toda aquela brutalidade. Meu colega aconselhou sairmos de perto daquele carro para não sermos atropelados.

O rapaz do carro do fundo, de óculos, bem arrumado, cara de bancário, também ficou intrigado com aquela barulheira toda. Ligou o alarme, travou o veículo, saiu do estacionamento e, com seu controle, fechou o portão enquanto a mulher brigava ainda com o carro. "Dez minutos" depois, com muito custo, a mulher conseguiu estacionar e saiu do automóvel.

A gente fez "cara de paisagem", fingiu ignorar o fato, o barulho, a fumaça, o cheiro de pneu queimado, para não demonstrar que quase morria de rir por dentro. Vistoriamos os arredores assobiando, mesmo com a certeza de que ela sabia que estávamos disfarçando. Ela veio até a gente e isto me preocupou um bocado. Tinha de medo de não conseguir segurar as "cócegas" e rir "quilômetros" como que despejando no ar o conteúdo das gargalhadas acumuladas depois de ter assistido três fitas do Didi Mocó de uma só vez.

Ela perguntou:

- Quanto é?

Eu juro que se a conversa tivesse parado por aqui e eu tivesse, por exemplo, desmaiado, jamais na vida iria conseguir decifrar que diabos ela quis dizer com aquela pergunta!

- Perdão, não entendi - disse eu heroicamente sério e educado.

- Quanto é a hora?

Percebemos que ela acreditava que aquilo era uma garagem em funcionamento e nós os funcionários do lugar, apesar do mosquitão corinthiano no peito e da frase "Vigilância de Vetores" em fonte grande e de cor vermelho "gritante" nas costas do uniforme.

- Não trabalhamos aqui, senhora. Só estamos fazendo vistoria de controle da Dengue. A senhora deve conversar com a moça que está ali na sala - apontei para a porta de vidro preto do estabelecimento.

Ela se calou e foi até lá. Meu colega olhou para mim e, surpreso com a falta de educação da madame, que "não deu nem tchau", exclamou: "de nada". Eu ri, agora à vontade para rir o quanto quisesse e fosse capaz. O colega olhou pros lados, para se certificar que não tinha ninguém escutando, chegou mais perto e falou, em voz baixa: "devíamos ter saído antes, trancado o portãozinho e deixado ela presa aqui dentro". Aí sim, meus filhos que a pimenta azedou e eu disparei lá do fundo do diafragma o alarme da hiena maconhada!

O drama deve ter continuado ainda depois, quando a funcionária informou à "motorista" que aquele era um estacionamento cuja conta era dividida por usuários fixos. Não sei o que foi feito para driblar este problema, até porque sinceramente não quis, nem que me pagassem bem, estar na salinha enquanto a moça explicava este detalhe à mulher.

E eu lá carrego protetor de saco?