O PODER DA PALAVRA!

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (Evangelho de S.JOÃO).

A ação começa na mente, depois articula-se em palavras e posteriormente é concretizada. O resultado é variável, dependendo da interpretação de quem ouve e também da intenção de quem a profere. Assim o máximo cuidado é pouco, quando se abre a boca. Durante minha vida certamente disse muitas palavras inconvenientes. Apesar de não ter plena ciência dos malefícios que eventualmente cometi. Também, influenciei positivamente muita gente. Da mesma forma, nem sempre tive consciência do bem que minhas palavras fizeram.

Meu serviço militar foi como praça de segunda categoria no Tiro de Guerra. Um grupo de 230 indivíduos de 19 anos de idade, que passava 2 horas juntos diariamente, durante um espaço de tempo de 12 meses, jovens de condições sócio-econômicas diversas. Na oportunidade, aprendemos noções de moral e civismo e amor à pátria. Contudo, o que realmente marcou cada um de nós, foi sem dúvida a relação interpessoal. Cabelos cortados à “escovinha” e roupas da mesma cor (verde-oliva). Esses detalhes e principalmente, a troca de informações contribuíram para o nosso crescimento e nivelamento, apesar das diferenças culturais existentes.

Lembro-me de um rapaz cujo nome de guerra era “Pereira ”. Veio da roça para estudar na cidade e servir o exército. Tínhamos em comum: a turma, idade e o primeiro nome. Todavia, estávamos em patamares educacionais diferentes. Pois, ele apenas tinha concluído o ginásio e eu já estava iniciando o curso superior. Era ridicularizado pelos colegas pelo seu modo simples de falar e de ser. Nas provas teóricas semanais não ia bem, porém nas atividades físicas entre outras práticas era um dos primeiros.

Um dia chegou perto de mim e disse desanimado: - João você, já está fazendo faculdade e eu, agora que vou iniciar o segundo grau. – e daí rapaz, respondi. Logo você também estará fazendo faculdade, completei. – Eu não sou muito inteligente, como vocês. Disse ele amargurado. –Pelo contrário, retruquei. Você é muito inteligente, por exemplo: "desmonta e monta o fuzil mais rápido do que todos nós". Outra feita, ele comentou sobre as dificuldades na escola em que estava freqüentando, pois, não tinha dinheiro para comprar livros. Ouvi calado, as suas reclamações, no outro dia levei para ele todas as apostilas que usei durante o tempo de “cursinho,” afinal para mim elas não tinham mais serventia. Conversávamos bastante sobre os problemas e as dificuldades diversas da vida estudantil e outras questões, um bom relacionamento que perdurou até o final do serviço militar.

Depois disso, encontrei novamente Pereira, dez anos mais tarde. Fui assistir a formatura de uma prima minha em medicina. Após a solenidade oficial de colação de grau, enquanto abraçava minha parenta, notei que alguém me puxava pela camisa. Quando virei, tomei um susto daqueles, pois era ele, Pereira, em carne e osso. Só que agora, vestido com uma linda beca verde de formando em medicina. Ele abraçou-me chorando, sem dizer nada. Da mesma forma, retribui o abraço em silêncio, bastante comovido...!

Obviamente, o mérito de se formar em uma das mais concorridas escolas de medicina do Brasil foi exclusivamente dele. Todavia, o ESTÍMULO dado naquele período que passamos juntos deve de alguma forma ter contribuído para sua formação. Penso que da mesma forma, se não o tivesse apoiado naquela ocasião e seguido o caminho daqueles que faziam chacota dele, poderia ter acarretado prejuízo à tão brilhante rapaz. Portanto, o cuidado com as nossas atitudes deve ser uma constante em nossas vidas, pois elas poderão ajudar, ou prejudicar muita gente.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 20/01/2011
Reeditado em 21/01/2011
Código do texto: T2740501
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