Estou pronta para partir.

Já deixei de sentir aquele peso enorme nas costas propiciado pela tristeza de saber que nunca fui verdadeiramente amada por ninguém.

Também não sinto da dor de ter sido sempre preterida por todos.

A mágoa por ter sido enganada, traída, iludida e incompreendida pelas pessoas que amei verdadeiramente não mais machuca o meu coração, não fere minha alma e já deixou de me fazer chorar. Agora, sofro, apenas, pelas dores físicas motivadas pelo corpo debilitado e semidegenerado.

Emocionalmente nada mais pode me atingir.

Materialmente perdi tudo que amealhei ao longo dos anos, mas como a bagagem para essa derradeira viagem é de outra natureza não precisarei de nada.

Aprendi que o sofrimento é inerente à vida.

Aprendi que tudo passa inclusive a própria vida.

Sei que estou pronta, ou melhor, preparada para

a grande viagem. Estou serena, me sinto leve, tão leve que às vezes parece-me estar flutuando.

Sinto minha energia esvaindo lentamente e minha luz apagando aos poucos anunciando o fim do espetáculo VIVER.

Não consegui esclarecer a grande dúvida que me perseguiu durante a vida toda.

Tudo ficará claro lá do outro lado quando finalmente, estarei liberta, desse casulo que abriga a minha alma, essa sim, eterna.

Não consegui fazer a minha mudança para cá e por essa razão não tenho e nem terei os momentos felizes que sonhei passar por aqui, cercada de minhas coisas, dos meus objetos, livros, discos, quadros, adornos, enfim, da minha memória e de minhas lembranças.

Espero que alguma coisa desse corpo sirva para dar energia, vida, luz e a alegria a outrem.

Acho estranho ter que doar aquilo que recebemos de graça para determinado período de uso.

Mas como assim é exigido providenciei a doação.

Decidi há muitos anos doar o que for útil desse meu corpo e cremar o restante.

Não quero velório e nem túmulo, sempre achei esses rituais inúteis para quem parte e para os que ficam.

Acho que se perdem terrenos valiosos que poderiam ser utilizados para construção de moradias, escolas etc. e não para abrigar matéria inútil e perecível.

Espero encontrar em meu último desembarque os meus queridos anjos e as pessoas queridas que me precederam.

Apesar dos pesares continuo gostando delas e sinto saudades, depois não cabe a mim o julgamento dos atos de ninguém.

Creio, pela minha experiência que a minha ausência não será muito sentida.

Agradeço de todo coração as manifestações de carinho e a paciência que tiveram comigo em momentos difíceis, a bondade e a caridade para aceitar os meus inúmeros defeitos.

Sei que não farei falta a ninguém e é bem melhor assim. Sofri, mas há muito tempo deixei de sofrer foi só tirar da bagagem que carrego, o lixo inútil.

Aos que magoei de alguma forma ou fiz sofrer, imploro perdão antecipadamente.

Se lembrarem de mim, façam uma prece e mandem recado pelos anjos creiam ou não, Eles estão sempre entre nós.

Gostaria que cantassem ou mandassem tocar duas músicas na minha despedida: - a primeira chama-se ALMA, cantada pela maravilhosa Simone e a segunda se intitula VEM e é cantada divinamente pela gloriosa Célia Tomboly.

Perdoem-me pelo meu egoísmo, pela minha tola vaidade e pela minha impaciência. Somos todos irmãos em Cristo e quero amá-los como Ele nos ensinou.

Com certeza, terei uma nova chance para me redimir com aqueles que de alguma forma magoei, deixei de compreender e principalmente de atender quando podia e devia.

Quero uma nova chance para sentir as emoções não vividas agora: - ter filhos, curtir muito a natureza, a família, os amigos, conhecer Portugal e Espanha e ser realmente boa e generosa.

Ana Aparecida Ottoni.

P. Grande, 23 de janeiro de 2010.

Vejam se puderem:

http://39f1cb4a258f5aa1.blog.terra.com.br/wp-admin/post-new.php

http://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/login/login.php?url=%2Fescrivaninha%2Fpublicacoes%2Findex.php

http:// www.casa do poeta pg.com.br/profile/ Ana Aparecida Ottoni

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Ana Aparecida Ottoni
Enviado por Ana Aparecida Ottoni em 23/01/2011
Reeditado em 12/02/2011
Código do texto: T2746383
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