Uma paisagem de sonho!

Esther Ribeiro Gomes

Era mais uma madrugada quente de verão e o sono custava a chegar...

Afinal, dormi e sonhei com as belezas das praias do litoral norte de São Paulo.

Em meu sonho voltei no tempo, há mais de quarenta anos...

Era recém-casada, pouco mais que uma menina, no esplendor dos meus vinte anos.

Um amigo do meu marido tinha uma bela casa na praia Preta, entre Juqueí e Barra do Una, em São Sebastião, no litoral norte.

Naquela época chegar lá era uma aventura!

Numa linda manhã de sábado, saímos de São Paulo lá pelas dez horas da manhã, felizes por poder passar mais um feriado prolongado na bela praia Preta, a convite do nosso amigo.

Então, começou aquela longa e inesquecível viagem...

Ao chegarmos a Santos, tivemos que enfrentar umas cinco horas de fila para pegar a balsa que nos levaria ao Guarujá, pois, naquela época, a estrada ainda não havia sido construída.

Atravessamos Guarujá e pegamos outra fila, desta vez, de umas quatro horas, para pegar a balsa para Bertioga...

Quando lá chegamos já era noite e como estava muito escuro, o jeito foi dirigir pela beira do mar, onde as marolas nos indicavam o caminho...

Depois tínhamos que atravessar umas pontezinhas precárias para ir de uma praia a outra e eu fechava os olhos para não ver, caso alguma delas caísse!

Finalmente, era quase meia-noite quando chegamos sãos e salvos daquela perigosa aventura!

Após um rápido lanche que nosso amigo ofereceu, dormimos o sono dos justos!

Na manhã seguinte fomos presenteados com um maravilhoso dia de céu azul e sol brilhante.

A casa do nosso amigo era de frente para o mar e cada quarto tinha portas-venezianas que se abriam para aquela paisagem magnífica!

A praia Preta é bem pequena e fica entre dois morros, então a casa ficava, praticamente, numa praia particular.

Após um lauto café da manhã, estávamos prontos para curtir aquela linda praia.

Mas antes de esparramar nossos corpos ávidos de sol por aquelas gostosas areias, tínhamos que, literalmente, banhá-los de querosene!

Atrás da casa havia um caldeirão cheio desse líquido e uma concha para espalhá-lo pelo corpo.

Era isso, ou receber a incômoda e dolorosa visita dos pernilongos e borrachudos que infestavam o local...

Então, fedendo a querosene, lá íamos nós, felizes, nos bronzear lagarteando ao sol.

Durante o dia todo a empregada da casa vinha nos servir de bebidas e petiscos deliciosos e, apesar do cheiro desagradável do querosene,

eu me sentia no paraíso!

No final da tarde, já fartos de tanto sol, entrávamos na casa para tomar um gostoso banho e almoçar já quase à noitinha, por isso se chamava almoço-ajantarado, porque depois só íamos comer um lanchinho antes de deitar.

Mas nem tudo era perfeito nesse pequeno paraíso: depois daquele refrescante banho, quando voltávamos da praia, tínhamos que escolher uma das duas opções: receber, mais uma vez, a incômoda visita dos pernilongos e borrachudos, ou recorrer à proteção do fedido querosene... Obviamente, escolhíamos a segunda opção!

Nosso amigo dizia que para espantar esses indesejáveis bichinhos, só podia ser o querosene, porque eram viciados nos outros produtos que os atraíam ainda mais!

Mas, incômodos à parte, tudo valia a pena para desfrutar essa paisagem de sonho!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 25/01/2011
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