Lembranças que afagam a alma...

Esther Ribeiro Gomes

'Oh que saudades que tenho da aurora da minha vida,

da minha infância querida que os anos não trazem mais!

(Casimiro de Abreu)

Passei minha infância no interior de São Paulo, onde minha mãe era

professora efetiva de francês e escolhia a cidade onde havia vaga para lecionar.

Sendo assim, moramos em várias cidades do interior:

Jahu, Itapuí, São Pedro, Piracicaba, Atibaia e Limeira.

Tínhamos parentes em São Paulo e viajávamos sempre para lá de trem, nosso transporte favorito.

Ah, como eu amo trens!

Até hoje eles exercem um grande fascínio sobre mim...

Gostava muito também dos bondes, principalmente os abertos, onde costumávamos andar no verão, sentindo o vento acariciar o rosto...

Quando chegávamos a São Paulo, minha tia-avó me levava para passear de bonde e na hora de descer era um sacrifício, porque eu não queria mais sair...

Que saudades dos luxuosos trens da minha infância, pena que hoje não existem mais...

Eles pertenciam a uma companhia inglesa e eram lindos!

Viajávamos sempre na primeira classe, mas meu sonho era viajar no vagão chamado ‘Pullman’, com poltronas giratórias de couro verde, tapete vermelho no chão, lustres de cristal, um luxo!

Como era mais caro, só de vez em quando minha mãe me concedia esse agrado e nessas viagens aconteciam fatos pitorescos.

O vagão-restaurante era lindo, com suas mesas cobertas de toalhas e guardanapos de linho branco, cálices de cristal e um vasinho com cravo vermelho em cada mesa!

Minha mãe só pedia bife com batatas fritas porque dizia ela que eram feitos na hora e as outras comidas eram requentadas.

Um dia, fiquei boquiaberta observando um senhor de bigode, comendo ‘spaguetti ao sugo’.

Ele se lambuzava todo, seu bigode ficou vermelho de molho e então pegou o impecável guardanapo de linho branco, mergulhou na água do copo de cristal que ficou tingida de vermelho e limpou o bigode!

Fiquei estarrecida e jurei nunca me casar com um homem de bigode!

Engraçado, coincidência ou não, nunca namorei nem me casei com um.

Outro fato engraçado foi quando um trem que viajávamos parou numa estação em frente a uma placa onde estava escrito em letras bem grandes: Mictório.

E na minha inocência infantil, perguntei em voz alta:

- Mãe, que cidade é essa, Mictório?

A risada foi geral, deixando minha mãe encabulada.

Criança apronta cada uma...

Ah, doces lembranças que me afagam a alma!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 27/01/2011
Reeditado em 27/01/2011
Código do texto: T2755504