INVENTÁRIO

INVENTÁRIO

Quando o caminho termina e não se avista horizontes, o olhar volta ao passado, como a cobrar da memória o que restou do tempo vivido.

E o que se descobre é uma vida desperdiçada em sonhos.

Afora lembranças de alguns raros momentos felizes e o consolo do dever cumprido, resta uma eterna saudade do que não aconteceu, uma tristeza infinita por sonhos abandonados.

Resta a alma arrependida daquilo que nunca fez, de dizer o que não devia e calar o que deveria ser dito.

Resta um coração solitário, que se cansou de esperar.

Resta a melancolia de uma vida que se acaba, toda perdida em renúncias; de um amor contido e resignado, de tantos sonhos inúteis em busca da felicidade.

Resta o remorso do pouco que fez em benefício do próximo.

E há, por fim, a dolorosa certeza do tempo perdido na longa e nem sempre útil caminhada.