Amor: utopia ou realidade?

Ao fazer uso do texto "Para que ninguém a quisesse", de Marina Colasanti, a minha idéia inicial era a der dar um testemunho pessoal sobre amor, casamento e dependência. Fui traída por uma inesperada emoção que aflorou junto com algumas lágrimas.

Ainda agora, aqui em frente ao meu silencioso computador, não entendo como a lembrança de um passado agora distante fui suscitada de forma tão abrupta. Coisas da emoção humana que não cabe explicação lógica, racional. Creio que por algumas vezes a emoção não se explica, ou por si só se explica.

Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira. Esta é uma frase da escritora Cecília Meireles que acho propícia a uma situação de vida pela qual passei em determina época e que foi a causa da explosão emocional do dia. Estou sempre aprendendo a renascer com o dia. Um exercício árduo para uma vida nova.

Fui casada durante treze anos – hoje considero o 13 um ponto de sorte – e o texto da Marina Colassanti condensa um pouco a história de dependência que vivi. Talvez não de forma literal, mas o texto traz em si alguma metáfora de condiz com aquele tempo. Treze anos foi o tempo que durou a minha maturação para que eu pudesse tomar uma decisão definitiva. Talvez eu tivesse me acostumado com a situação que vivi, mas acredito que Deus só permite as coisas em seu exato momento. O meu ato de libertação foi solitário. Não ouvi conselhos, ouvi apenas o que dizia a minha alma amargura, os meus olhos que há tempos não vertiam lágrimas, minhas mãos de poetisa que não eram capazes de colocar em uma folha em branco uma linha sequer.

Minha decisão levou treze anos para ser tomada, mas foi conscientemente pensada e realizada. Nunca carreguei cicatrizes físicas em meu corpo, apenas as marcas doridas da alma e penso que essas são mais fundas, fincam raízes com maior intensidade e em alguns casos duram toda uma vida.

Quando me casei pensei que seria para sempre.

Quando eu tinha uns dezessete anos meu irmão, que é mais velho que eu dez anos, me disse que não queria que eu fosse esposa antes de me descobrir mulher. Naquela época eu não entendia, mas essa frase sempre ficou guardada em minha memória e hoje eu a entendo perfeitamente. Mas o tempo não volta e eu creio que não preciso desse retrocesso. Sempre dizemos que se o tempo voltasse faríamos tudo diferente. Não. O tempo é único e nossas ações são pautadas como são.

Este era, pois, o depoimento que eu pretendi dar na apresentação do trabalho de minha equipe, mas as lágrimas sobrepujaram-se às palavras. E talvez elas – as lágrimas – possam ter sido um testemunho mais veemente de um passado que ainda cala em mim algumas mágoas, mas que estou aprendendo a superar dia-a-dia.

Amor, utopia ou realidade?

Como pessoa, hoje, acredito que seja o amor uma utopia – e falo aqui não do amor de concepção universal, porque este é real – mas do amor entre homem e mulher. Não que eu seja pessimista e que tenha feito de um casamento que não deu certo uma regra para meus dias vindouros. Ainda acredito que Deus não há de ter feito o homem e a mulher para que estes vivam sozinhos. Digamos que eu, por enquanto, não acredite nessa utopia.

Como poetisa o amor é uma realidade. Talvez uma realidade mimetizada apenas nas folhas de papel que utilizo, mas como poetisa devo acreditar na realidade desse amor.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 27/01/2011
Reeditado em 27/01/2011
Código do texto: T2755903
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