Pampa x Caatinga - Uma crônica de viagem

Eu estava ansiosa como era de se esperar. O voo saiu de madrugada e o destino era um dos lugares mais procurados pelos brasileiros: A Serra Gaúcha.

Chegamos pela manhã e estávamos com sorte, o dia estava claro e sem previsão de chuva. Éramos um grupo de aproximadamente cinquenta pessoas. Destas, eu já conhecia e convivia com três.

Ficamos hospedados na cidade de Canela, mas também conhecemos e curtimos muito as cidades de Gramado, Bento Gonçalves, Nova Petrópoles, Caxias do Sul e Garibaldi.

Só quando estava lá, compreendi o porquê daquele lugar ser tão visitado. Como costumamos ouvir dizer: “não parece ser o Brasil”. A começar pelo clima, a qualidade do solo, sempre tão generoso com as sementes; passando por aqueles jardins maravilhosos, recheados de uma variedade enorme de flores, e pelas estradas emolduradas pelas hortênsias. Além de sua arquitetura tão atípica para nós brasileiros filhos do nordeste. Chegando por fim aos gaúchos e seu modo de viver tão diferente do nosso; sem falar em seu tipo físico, tão garboso, elegante e um tanto orgulhoso.

É, não parece Brasil mesmo. Não quero que me interpretem mal. Mas realmente senti falta daquele brasileiro de sorriso largo, semblante leve, de comportamento acolhedor e generoso que encontramos em nossa região. Senti falta daquele brasileiro que pergunta com curiosidade e simpatia: “de onde você é?” “Está gostando da terrinha?” “Pretende demorar?” Senti falta daquele brasileiro que tem prazer em te ensinar por onde ir e que depois de te informar algo, abre aquele sorrisão e diz: “espero que gostem daqui e voltem”.

Agora compreendo o verdadeiro sentido da afirmação: “nem parece que estamos no Brasil”. Outro fator é a língua, muitas vezes incompreensível, já que a mistura das colônias alemães, italianas e outras, termina por prejudicar aquele povo bonito, causando algum prejuízo em seu português. Terra do vinho e do turismo bem administrado.

Tudo bem, é tudo muito lindo, muito limpo e seu povo bastante civilizado. Mas assim como seu clima, senti um pouco de frieza naquele povo bonito, contrastando com a quentura do nosso agreste, zona da mata, sertão e com o calor humano despojado do povo nordestino. A distância de Pernambuco para o Rio Grande do Sul, não é apenas geográfica, é principalmente humana.

Pude perceber que nossos irmãos do sul, não se sentem tão irmãos nossos. A diferença cultural nos distancia muito mais que os quilômetros percorridos para lá chegarmos. Acho que entendi finalmente, as revoluções do passado que queria tanto deixar aquela terra independente do resto do Brasil.

Nossos irmãos do sul são muito bonitos, mas também são um tanto quanto “iguais”. Pela primeira vez consegui ver a beleza que existe na diversidade. Saímos de casa e nos deparamos com a grande variedade do tipo humano nordestino: são pardos, brancos, morenos, mulatos, altos, baixos, gordos, magros, nariz aquilino, nariz “chato”, olho puxado, olho arredondado, cabelos pretos, loiros, castanhos, avermelhados. Pra todos os gostos. O tédio não existe.

É, somos um povo ímpar nós nordestinos, e isso tudo, sem falar no campo intelectual. Algo que me entristeceu no sul, foi perceber como nossa inteligência e conhecimento são subestimados. Mas, tudo bem. Sabe porque isso acontece? E esta, é uma teoria minha, acho que é porque nós nordestinos temos e sempre tivemos uma maior oportunidade de ir, do que eles de virem pra cá, e assim, terem a oportunidade de ver o quanto de cultura, riqueza e calor humano nós temos. Há os que irão dizer, claro, os nordestinos sempre precisaram migrar para lutar pela sobrevivência, até concordo, mas hoje, se vamos mais, que eles vêm, a razão é o turismo.

Quem sabe, agora com uma presidenta “gaúcha”, esta distância humana que existe entre o sul e o nordeste, diminua um pouco e aquele povo, tão bonito, descubra que nosso país é grande como coração de mãe, que não discrimina filho algum, e ama e protege a todos.

Wanusa Pinto
Enviado por Wanusa Pinto em 28/01/2011
Reeditado em 02/05/2014
Código do texto: T2756552
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