Um trem chamado ontem.
Corro desatinado pelas ruas que me perseguem, querendo os corpos encadernados de pele humana que habitam a biblioteca das lembranças, livros vividos, romances inacabados, poemas e prosas, crônicas por escrever. Nestes rostos que me sorriem aos bandos, mulheres que tive, as que quis ter, as que jamais terei, as que criei. Chego á estação no exato momento da partida deste trem que leva lembranças para o destino final, do não sei quando, e vejo recortado nas janelas, estes rostos, como quadros repetidos de um filme, rodando na marcha cadenciada do trem.
Carlos Said
* Este texto é baseado em um poema e uma homenagem ao romancista,poeta, professor e gourmet espanhol Manuel Vazquez Montalbán...que um dia virou...luz.