"Cadeira de Balanço"

“A Esperança venceu o medo”. Com esta frase o presidente eleito do Brasil , definiu o momento histórico eleitoral que a nação acabara de vivenciar. Não foi um “estelionato eleitoral” como dizia o outro candidato e sim a manifestação pacífica e democrática de 150 milhões de brasileiros e brasileiras. E nesta primeira semana o clima não foi só de euforia e comemoração, mas foi pautado também por pronunciamentos sérios e propostas concretas de governabilidade transmitindo a todos confiança e responsabilidade com o cargo para o qual acabara de ser escolhido.

Todos os pessimistas de plantão estão agora procurando justificativas para suas profecias mas, começam a entender que a vontade popular é mais forte do que qualquer marketing político. Em todos os jornais e rede de televisão no Brasil e em todo o mundo a notícia é uma só: A democracia brasileira. Será que finalmente conheceremos os seus frutos?

“Esta é uma virada histórica que conferiu uma votação inédita a um legítimo homem do povo, um operário autêntico, cuja vida, desde o nascimento à militância sindical, nada difere da de tantos compatriotas pobres ou miseráveis, descidos do Nordeste, no desconforto dos paus-de-arara, em busca das promessas de São Paulo.” Foram necessárias três tentativas fracassadas para alcançar a vitória reconciliadora.

Se este é um momento histórico, histórico também pode ser o governo que se anuncia, se lhe for dado um crédito de confiança, sem abandonarmos a crítica construtiva e a independência de opinião.

Abaixo, segue alguns trechos jornalísticos sobre o novo presidente: “Lula é o Getúlio do Brasil 2002; um líder popular carismático que veio para organizar o povo das classes C e D à sua volta, `a revelia das elites tradicionais. O governo Lula, sociologicamente falando, retoma o discurso social-democrata que FHC traiu ao associar-se ao neoliberalismo. [...] Serra aterrorizou o mercado com insinuações de “confisco” e “moratória”, gerando percepções negativistas aqui e no exterior ( crime de lesa pátria). A herança é altamente onerosa. Este governo de transição montado por FHC é democrático e elegante, mas é necessário dizer o real estado da Nação e a respectiva responsabilidade. Inflação em alta pela especulação do dólar, carga tributária acachapante( 41% do PIB), real desvalorizado, estradas esburacadas, saúde em frangalhos, dívida pública na casa de R$845 bilhões ou 63% do PIB, economia estagnada, 12 milhões de desempregados, renda em queda e criminalidade em alta. [...] cuida-se apenas das verdades que devem ser ditas. Ao cabo, os trabalhos hercúleos de Lula foram-lhe impostos. Será preciso saber quem criou os problemas e quem lhes deu a solução, como na rica mitologia dos gregos.” Estes trechos são de autoria de Sacha Calmon, professor de direito tributário da UFMG.

Felizmente nós temos muitas “inteligências” e muitas começarão a dar sua contribuição neste novo período, que esperamos seja de muita prosperidade e paz política, para que os grandes problemas do Brasil sejam encarados com grandeza e senso de responsabilidade social. Não dá mais para esperar. Para milhões e milhões de cidadãos os próximos quatro anos afiguram-se, com certeza, como os mais importantes de suas vidas.

Em um sinal muito positivo às declarações do governo eleito e com o sucesso do Banco Central na rolagem da dívida cambial o dólar desabou na última semana e o real recuperou 3,5% do seu valor. No dia 01 de novembro o dólar fechou em R$3,60 para venda, a menor cotação desde o dia 23 de setembro. O risco país caiu 2,4%, para 1.699 pontos, o menor nível desde 9 de setembro. O motivo principal desta reação do mercado são as declarações do futuro governo no sentido de manter o compromisso fiscal e a inflação sob controle.

A melhoria do humor do mercado financeiro ainda não vai se traduzir em aumento da oferta de linhas de crédito externo para o país. Isto porque , segundo fontes especializadas de um grande banco estrangeiro , é natural que nos últimos meses do ano ocorra uma redução dessa oferta de linhas. A razão disso está no fato dos financiadores já terem atingido seus objetivos de exposição nos mercados em que atuam. Além disso, os problemas envolvendo as relações dos bancos com empresas norte americanas e européias, as incertezas sobre os rumos da economia mundial e ainda o impacto da crise argentina, tem retardado o retorno destas linhas de crédito ao nível normal. Apesar deste otimismo momentâneo ainda é cedo para novas previsões.

Em seu comentário semanal ontem( 01 de novembro) o economista chefe do Lloyds Bank, Odair Abate afirmou: “Há boas chances , portanto, de que a tendência de melhora persista, ainda que possam ocorrer naturais oscilações de curtíssimo prazo.” O dólar recuou 5,3% na semana, 10% desde seu pico de R$4 reais e quase 3% a partir de 1º de outubro. E pela primeira vez em muito tempo a Bovespa fechou um mês com valorização de dois dígitos: 15%. A rigor, nada mudou. Lula apenas reafirmou o que vinha dizendo em sua campanha: que só cursou o primário mas que sabe fazer contas, e, ao contrário do que andou dizendo o infeliz secretário do tesouro americano Paul O’neil, ele não é louco.

Sebastião C.Borges/2002

P.S. O título é em homenagem a Carlos Drumond de Andrade, o poeta maior.