A REVOLTA DO CAIRO

Em pleno século vinte e um, era em que o mundo se "globaliza", tempo em que as informações são instantâneas e a ciência quebra seu próprio recorde em todas as áreas do conhecimento; num cenário mundial em que tantas vozes se levantam em defesa dos "direitos humanos", poderíamos esperar sim, um palco de melhores relações sócio-políticas em todo o planeta, ao menos uma maior consolidação dos "verdadeiros" ideais democráticos rumo ao caminho dum mundo GLOBALMENTE mais "homogêneo", mais justo, com maior qualidade de vida.

Porém, paradoxalmente ao que se entende como o desenvolvimento " a jato" do homem contemporâneo, ultimamente vemos pelo mundo focos de revoltas sociais frente aos desmandos políticos, aos abusos dos poderes, à repressão social explícita ou subliminar, aos fisiologismos, ao tráfico de influências, ao abuso do Estado, à corrupção e demais desrespeitos às tantas liberdades individuais que, em última análise, causam desde focos pontuais de tensão até verdadeiras e perigosas convulsões sociais, a exemplo do que assistimos hoje no Cairo.

Ainda outro dia, curiosamente ao contrário do que eu acreditava, ouvia que hoje temos no planeta mais governos ditatoriais do que governos democráticos.

Este dado nos era mostrado geograficamente por uma reportagem da televisão cultura, cuja matéria dum sociólogo dividia a cartografia do mundo polítco em três setores: nações com ditaduras, nações em transições ou com aspirações democráticas, e nações verdadeiramente democráticas, para aqui resumir aquela matéria de maneira mais didática, frente ao que lá nos foi exposto.

Grande foi o meu susto: O planeta, a despeito de toda sua "evolução?", ainda é território de predomínio de sistema de governo ditatorial.

Grande parte do seu contingente humanitário vive às margens do que se denomina "sociedade".

Liguei minhas antenas a me perguntar: Quantas nações seriam VERDADEIRAMENTE DEMOCRÁTICAS?

Quantos líderes, hoje, usariam a Democracia para se eternizarem no poder de ocultos ditadores?

Às vezes penso que, frente aos atuais modelos ou sistemas de governos existentes no planeta, neste contexto da GOBALIZAÇÃO que nos evidencia tamanha INJUSTIÇA SOCIAL GLOBALIZADA, a também desfocar a diversidade social e econômica que existe no planeta a nos descortinar a flagrante má distribuição das rendas nos tantos micro e macros cosmos, os de tantas pluralidades difíceis de se gerir, fica muito difícil acreditar que a verdadeira "justiça democrática" seja viável neste presente momento, a viabilizar uma liberdade hegemônica para todos os cidadãos do mundo.

Fica difícil enxergar que AINDA haja espaço digno para todos, num planeta de "crescimento" tão desorganizado, megapovoado e de preservação ambiental tão negligenciada.

Assim, não consigo imaginar que realmente haja a verdadeira intenção política ou mesmo a real possibilidade social para se garantir direitos democráticos e igualitários às nações do planeta, mesmo porque os discrepantes degraus culturais ainda hoje dificultariam a inserção de meios e condições mais igualitárias de vida. As barreira são muitas, o próprio Homem é a mais intransponível delas.

A "qualidade humanitária" ainda haveria que se desenvolver muito, "holisticamente " falando, para o efetivo exercício da Democracia plena, globalizada, a vislumbrar um mundo mais feliz.

Porém, hoje enxergo a Humanidade dividida em três principais categorias: Os que governam e querem continuar governando a qualquer custo, os que aprovam os governos pétreos porque deles tiram proveitos e comodidades para si e os que lutam para mudar as forças políticas "petreamente" estabelecidas porque se sentem lesados e explorados.

Diante deste pressuposto, hoje repenso sobre a revolta social que se instalou na cidade do Cairo, num regime que há tantos anos parecia funcionar. O que de fato ali aconteceu?

Pelo tamanho da confusão que lá se instalou decerto os descontentes foram se avolumando no tempo, e com certeza as tensões sociais também, a ponto de eclodirem através da explosão do descontentamento do povo.

Toda revolta desta qualidade deveria PREOCUPAR e alertar aqueles líderes com tendências ditatoriais, mesmo os mais disfarçados de democratas ...porque um dia, a corda arrebenta e a casa cai.

Nenhuma força é para sempre, tampouco império algum, e Democracia pressupõe alternância de poderes, eis a sua parte mais difícil.

Enfim, assistimos a História sempre nos recontando fatos, bem como se recontando a si mesma. Um repetitivo livro aberto no tempo.

A mim me parece que o paraíso social seria um "autocomando" dos povos. A ausência de governos,muito longe da ausência de ordem social.

Utopia? Acredito que sim.

Porém, há sonhos que são mais factíveis de se viver, muito mais do que certas realidades.

Nenhum governo é dono do destino de Nação alguma, porque até a História... ao seu povo pertence.

Os líderes deveriam aprender tal lição.