Lembranças...

Quando a gente se apaixona a vida parecer ter um sentido diferente. Tudo se torna mais intenso. São beijos calorosos, abraços envolventes, encontros arrebatadores... Essas são as mais gostosas lembranças que guardamos, principalmente quando a tal ‘paixão’ chega ao fim.

No momento que se acaba um relacionamento a maior ausência, às vezes, nem é a presença física do outro, mas o que de bom foi vivido com ele. E é essa vivência que insiste em vir à tona de tempos em tempos. Sempre que toca alguma música, ou paira no ar aquele cheiro inesquecível ou mesmo uma fotografia da época em que dividiam o tempo juntos... Isso tudo nos faz recordar daquilo que nem sempre queríamos que tivesse passado.

Essas lembranças mexem conosco de uma forma inexplicável. Sim, não conseguimos explica-las até mesmo porque, como disse o escritor brasileiro Roberto Freire, “quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo, já não está amando”. Essa falta de palavras para descrever tamanho sentimento prova o quanto ele foi genuíno e profundo.

Não é da veracidade da paixão em si que se trata essa reflexão, mas das marcas que ela nos deixa e do que a desperta em nós, como algo que ainda pulsa ao toque de uma lembrança.

Não são raras as vezes em que me pego alheia ao que acontece ao meu redor... É só tocar aquela canção que me ponho a chorar. Ou quando sinto o cheiro do perfume dele – que eu tanto gosto – me deixa com um sentimento enorme de nostalgia. Até quando penso nos planos nossos, e que, mesmo sem ele, continuam como meus a serem concretizados.

Na composição Paixão Antiga, dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, há a descrição dessas lembranças gostosas: 'Paixão antiga sempre mexe com a gente é tão difícil esquecer. Basta um encontro por acaso e pronto começa tudo outra vez...' É bem isso mesmo. Claro que nem sempre há a possibilidade de um encontro real, mas, acredito que valha a lembrança como presença.

Friso que, a vontade de viver de novo nem sempre requer a volta do outro, mas do que de bom foi compartilhado com ele. Penso assim porque, se houve um fim é porque também houve um motivo e, caso nada tenha sido modificado, a decisão permanece a mesma. Não há sentido em voltar a uma situação que não te satisfaça mais...

Não podemos voltar no tempo literalmente, mas nossas antigas paixões (boas ou ruins) sempre estarão conosco através dessas lembranças. Isso é algo que não dá para fugir, apagar ou fingir que não aconteceu. Somos completos quando admitimos o nosso passado.

E meu passado apaixonado está marcado em meu corpo, de forma literal. Eu ainda o vivo... pelas fotos, perfumes, músicas... e por mim, pelo que me tornei depois do nosso encontro duradouro. Chego a conclusão que não há como fugir de você, mesmo tão distante. Suas marcas serão eternas... já que as lembranças insistem em não se desfazerem...

"(...) o que está no passado tem motivos para não fazer parte do seu presente, não é preciso perder pra aprender a dar valor (...) Aos poucos você percebe o que vale a pena, o que se deve guardar pro resto da vida, e o que nunca deveria ter entrado nela. Não tem como esconder a verdade, nem tem como enterrar o passado (...)"

Charles Chaplin

Sheila Liz
Enviado por Sheila Liz em 03/02/2011
Código do texto: T2769544
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