As máquinas e as lembranças

As pessoas sentem saudades de momentos já viveram e são obsecadas em registrar tudo. Eu jamais senti falta de fatos, sim das sensações que passaram. A vida segue feito um rio, dificilmente, ele retorna a mesma margem, por que nós temos que voltar para rever o passado. Não ligo nem para fotos, olha-as com doçura, mas sem nostalgias ou algum pesar, pois depois que passam são imagens sem alma. Todas as épocas possuem uma beleza própria, porém ficam lá encasteladas num mundo que já se foi. Não podemos retomá-las ou resgatá-las em filmes ou em fotos. O que realmente fica são as lembranças, sensações e cheiros que não são registrados por nenhuma máquina.

Existe um parque aqui em Porto Alegre chamado Redenção. Toda vez que passo lá me dá um aperto no peito, pois as paisagens, o vento alastra os cheiros me levam a um tempo feliz. Trabalhei muito tempo ao lado da Redenção e meus filhos estudavam na mesma escola em que eu dava aulas. Eles cresceram atravessando o parque comigo para pegar ônibus, táxi ou lotação. Há um ano, resolvi por razões financeiras, sair dessa escola, mas meus filhos permaneceram lá. Seguidamente, preciso buscá-los, pegar boletins entre outras coisas, então passo pelo meu parque e caminho lentamente sorvendo cada recanto dele. Dá-me uma angústia, pois é um tempo novo. São sentimentos novos, porque não posso congelar os momentos que vivi ali com meus filhos, amigos e alunos. Depois reter numa fotografia eterna e ficar olhando sempre.

Dias desses ao passar pelo parque, minha filha me disse: - mãe, a redenção sempre estará aqui! Fiquei pensando, o parque sim, mas o que senti no período que caminhei pelas suas alamedas, jamais estará lá. Já passou para outra dimensão, a das lembranças que ficam retidas nossa memória afetiva. Nenhuma máquina pode fixar nossas impressões, sentimentos, anseios que se viveu, somente a imagem congela. Mesmo que caminhe pelo parque com meus dois filhos percorrendo os mesmos lugares, ainda assim seria outro tempo. Talvez mais belo ou mais triste, não sei... A vida corre como um rio e não dá bis jamais, mesmo que as máquinas tentem...

Isa Piedras(

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 03/02/2011
Código do texto: T2770362
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