HOJE, EU SÓ QUERO .....

 

 

     .....esperar que todos aqui em casa possam ir dormir. Assim que o silêncio estiver pleno e absoluto vou preparar dois sanduíches de mortadela com maionese, separar uns dois ou três copinhos de guaraná natural na geladeira e me esparramar no sofá da sala.

     Só com a luz do abajour acesa e escutando ao fundo os solos de Chopin, quero esperar a madrugada chegar. Não quero pensar em nada, talvez nem vá para a varanda observar as estrelas.

    O que quero é ficar em silêncio aqui na minha sala, esparramado no sofá, beliscando sanduíches de mortadela e bebericando guaraná natural.

     Apesar de não querer pensar em nada, fatalmente pensamentos diversos e alguns até inoportunos vão assaltar minha mente. Mas, não darei importância.

     Tem certas horas que gosto de ficar assim, em silêncio, prestando a atenção e apurando os ouvidos para sentir as batidas do meu coração e acompanhar o som da minha respiração.

    Observo algumas sombras projetadas no canto da sala pela luz suave do abajour. Sempre achei interessante como certos objetos tomam formas diferentes quando projetados ou encobertos parcialmente por uma sombra.

     Jarros se transformam em colunas, flores de seda parecem aranhas ameaçadoras e o ventilador de teto, antes com ruído suave parece criar asas e dá a impressão de estar esperando uma abertura maior nas janelas para decolar vôo rumo ao céu infinito .

     Hoje eu quero ficar só, não para dar um balanço na minha vida. Quero ficar só não para chorar mágoas ou tristezas. Quero ficar só porque isso vai me fazer bem.

    São esses raros momentos em que tenho oportunidade , tempo e paciência para ficar comigo mesmo, encontrar meu eu e olhar dentro da minha alma.

    Nessas horas não faço planos, não falo nada , nem quero saber se existe futuro e simplesmente recolho minhas asas, pouso num lugar seguro e procuro imaginar meus olhos brilhando como uma luz suave mas intensa .

    Certamente vou tirar meus óculos. Tem momentos que me sinto completamente despido sem eles mas tem hora que é bom tirá-los pois tenho a impressão que consigo enxergar melhor as coisas da alma, do coração, dos sentimentos .

    Com toda certeza vou relaxar, com toda certeza devo cochilar e só , quem sabe, demore um pouquinho para pregar os olhos porque certamente devo estar apreciando e beliscando meu sanduíche e meu guaraná.

    Normalmente, no meu dia a dia estou sempre rodeado de muita gente, falo e escuto muito e presto minha melhor atenção a tudo e em tudo . Entretanto, muitas vezes percebo que está me sobrando menos tempo para fazer o que realmente gosto, que sempre foi muito mais ler do que escrever.

     Mas no momento em que estiver na minha sala, protegido pela reconfortante luz do abajour não quero pegar num livro. Nem quero pensar em escrever qualquer novo verso.

    Aliás, escrever tem me cansado muito , algumas vezes tem me provocado dores e eu não me surpreenderia se ficasse longos períodos sem rabiscar nada, absolutamente nada.

    Não quero companhia. Tem hora que é bom a gente ficar a sós. E ficar a sós, eu sempre teimo eu ficar repetindo isso, não significa se sentir só ou até solitário.

    Quando fico só eu me refaço, parece que minhas células regeneram e não me surpreenderia se do céu viesse em minha direção raios invisíveis de energia, da positiva claro, as mesmas que me ajudam a seguir em frente a cada dia que passa, a cada minuto que consigo ultrapassar, cada vez mais forte, cada vez mais seguro do que realmente quero .

    Darei mais algumas dentadas o meu sanduíche , a essa altura já estarei no segundo copo de guaraná e cenas do dia ou de dias passados voltarão a minha mente como se fossem um filme.

    Tem gente que não gosta de rever cenas do filme de suas vidas. Dizem que têm profundos arrependimentos do que fizeram e falaram.

    Penso diferente. O que já passou, não volta. O que já disse, perdeu-se ou misturou-se nas ondas sonoras que rodeiam o planeta. E tem muitas coisas que falo e outras tantas que escuto que nem me lembro mais. Esqueço rápido.

    É só isso que eu quero. Hoje, quero beliscar um delicioso sanduíche de mortadela, bebericar tranquilamente um ou dois copos de guaraná natural, brincar com as sombras projetadas na parede pela luz do abajour e não pensar em nada, pelo menos em nada que me incomode.

    Se o sono chegar a solução será simples. Colocarei o copinho de guaraná na mesinha de centro, esticarei as pernas e vou deixar o sono tomar conta do meu destino ali mesmo no sofá.

    Quando acordar e se acordar, com certeza será um novo dia.........

 

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(.....imagem google.....)

WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 05/02/2011
Reeditado em 01/04/2013
Código do texto: T2774627
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