O cenário era mais que perfeito. Praia de Carapibús. Falar de Carapibús é me sentir impotente ante a ausência de palavras que eu posso usar para descrevê-la. Mas, numa tentativa, talvez inglória, vou falar um pouco dessa praia.
       Á caminho da famosa praia de nudismo Tambaba, conhecida internacionalmente, uma pequena placa, nada convidativa, indica: Carapibús. A estradinha é de barro vermelho e cercada de muitos arbustos que a invadem. São mangabeiras, araçazeiros, mangueiras e infinitos cajueiros. Nessa época, o perfume das flores de cajú, invade tudo. Como se não bastasse, trepadeiras cobrem os aceiros. São jitiranas roxas, são dedos de dama amarelo-ouro, são buninas de perfume suave, doce, inebriante, que num sobe e desce se emaranham, se enlaçam, desenlaçam, entrelaçam e encantam. Logo a estrada morre e o susto com o visual paralisa. Umas enormes falésias de mil cores, do roxo ao rosa migrando pelo amarelo e o marrom, protege o mar de um verde-água indescritível. Decididamente uma visão celeste.
       A descida é íngreme, o chegar quase um sonho. A água é morna, transparente e deixa á mostra mil peixinhos coloridos. Os coqueiros de praia, vergados pelo vento se misturam aos coqueiros anões, formando uma sombra perfeita para um descanso após essa enxurrada de beleza. A areia é macia, um convite para acomodar o corpo.
      Eu diria que nada mais poderia mudar em tudo isso. Pois não é que algo ainda estava por vir? O meu anfritião era nada menos que Zezinho da Paraíba, um dos melhores sanfoneiros do estado, quiçá do Brasil. Aos poucos, passado o deslumbramento inicial, gelado o vinho, cortado o queijo de coalho, Zezinho busca sua sanfona, grande, lustrosa, marcada com seu nome, e inicia um recital. Nada de forrós, o momento não pedia. A suspresa foi enorme. Zezinho atacou de Folhas Mortas. Perfeito. Daí vieram tangos apaixonados, fados chorosos, e até Mozart se fez presente. O abraço de Zezinho a sua sanfona era um abraço de amante. E, ele tocava nela, a esfregava em suas coxas, e tirava sons mágicos. Seu dedilhar era quase etéreo. A magia estava instalada. E a noite varou abrindo as luzes da madrugada. Lágrimas lavavam meu rosto. Estava muda. Paralisada de tanta emoção. Mas, nada havia a dizer, só a sentir. Ficou a lembrança de que um dia estive no paraíso e ouví uma música celestial. Obrigada Zezinho!