Enquanto os ventos sopram.
 
Tenho recebido alguns e-mails muito interessantes, baseados nesse tema: - Posso dormir enquanto os ventos sopram. Nenhum deles vem acompanhado do autor do texto, mas as variações são mínimas. Optarei por contar aqui a história de forma básica – Um homem, proprietário de terras localizadas junto ao mar, tinha dificuldade para arrumar empregados porque sua propriedade estava situada em uma região de fortes tempestades. Em determinada ocasião aceitou para trabalhar um homem franzino, a antítese de tudo que esperava encontrar em um bom empregado. Ao perguntar ao candidato ao emprego o que sabia fazer a resposta que ouviu foi: Posso dormir enquanto os ventos sopram. Sem saber o que dizer o Proprietário desesperado para encontrar um empregado optou por calar-se e contratar o homem. O tempo passando uma noite acordou com uma tempestade terrível se anunciando. Levantou-se apressado e foi chamar o empregado para que cuidassem de tudo e evitassem perdas maiores. Qual não foi sua surpresa ao encontrá-lo dormindo o sono dos justos e, sendo acordado, apenas disse: Eu lhe falei quando cheguei aqui – posso dormir enquanto os ventos sopram. Virou- se então para o outro lado e continuou a dormir como se nada tivesse acontecendo. O fazendeiro não teve outra solução se não sair correndo para fazer sozinho o que tivesse de ser feito. Foi aí que compreendeu finalmente as palavras do empregado porque encontrou todas as coisas na mais perfeita ordem, protegidas contra qualquer tempestade. Por isso ele dormia enquanto o vento soprava.
 
Essa história não é minha, mas gosto dela. É uma das muitas que retratam o meu modo de pensar e viver. No entanto eu não a apliquei em relação a minha saúde porque não me preveni. É o que está acontecendo comigo agora quando cuido para dormir a noite inteira sem temores. Continuo achando que não se pode viver o futuro, só o presente, mas o presente tem que ser cuidadoso para que um dia não seja desastroso por nossa única culpa. Nunca gostei de pré – ocupar-me, mas sim de ocupar-me.

 
Deixando a visão pessoal do texto de lado, fico imaginando o quanto seria interessante que nossos políticos a lessem e contratassem para os cargos ligados aos cuidados com a vida de nosso povo baseada em perguntas diretas: O que você fará quando chegar à temporada de chuvas? Como será o seu sono enquanto centenas de pessoas morrem e milhares ficam desabrigadas perdendo tudo o que levaram anos para juntar? Sei que algumas situações são imponderáveis, mas não vejo ninguém se preparando para aquelas que poderiam ser evitadas. Nem nós, nem nós... Contamos apenas com a sorte e colocamos tudo nas mãos de Deus que já deve estar cansado e desiludido com a confiança que colocou em nós, ao nos fazer em tudo e por tudo a sua imagem e semelhança - não conseguiu. Pois o maior dom que nos deu, a inteligência,  vive bloqueada por barreiras estranhas a sua natureza.