O CAMINHO DAS ÁGUAS

O CAMINHO DAS ÁGUAS

BETO MACHADO – RIO, 17-01-2011

Minha filha, desde a pré-adolescência, demonstra uma queda para os assuntos ecológicos.

Hoje, com pouco mais de vinte anos, possui experiência e consciência ambientais dignas dos verdes veteranos.

Chocado com os acontecimentos recentes na região serrana do Rio de Janeiro, me permiti solicitar dela, minha filha, algumas explicações a respeito dos fenômenos climáticos ocorridos.

----Pai, a zona de convergência subtropical do Atlântico Sul é um fenômeno de intermitência bienal, mas que pode se repetir nos intervalos, com menos intensidade, tendo como referência “El niño e La niña”.

----Pô, filha, disso, creio, os administradores já estão cientes. Existe algo mais que possa fazer parte do rol das causas provocadoras dessas sucessivas catástrofes?

----Claro que sim, pai. Só que essas outras causas são produzidas pela inércia das ações dos governantes.

----Não seria pela falta de ações deles?

----Concordo. Acho que foi isso que eu quis dizer.

Diante da TV, nesses dias posteriores à catástrofe nas serras fluminenses, observo autoridades estaduais e municipais se acotovelando, atraídas tanto pela dor das vítimas quanto pelos holofotes e microfones das emissoras de TV e Rádio que disputam espetáculos e exclusividades.

Mas o motivo principal que me levou a escrever essa crônica é um fato que, até agora, não foi muito ou nada comentado: os ambientalistas serranos ou não, residentes e/ou proprietários atingidos pela tragédia, estão literalmente sem chão e estrategicamente sem voz.

Haverão de se reformular alguns conceitos que nos pareciam definitivos. Exemplo:

--- construção irregular = barracos = pobres.

--- construção irregular em área de preservação ambiental = barracos = pobres.

---construção irregular em margens de rios = barracos = pobres.

Essas afirmações não se sustentam mais como verdades absolutas, nem se aproximam da lógica ecológica, que orienta e determina a racional ocupação do solo urbano ou rural, a menos que os ecologistas abandonem o silêncio e nos dêem justificativas plausíveis sobre o porquê das construções de mansões, de grandes prédios, de haras, de indústrias de médio porte, tudo no caminho das águas.

Há um livro do Padre Jesuíta JOSÉ DE ANCHIETA, editado no século xvi ou xvii que numa de suas muitas páginas elucidadoras o brilhante autor vaticina:

--- “NÃO SE CONSTRÓI NO CAMINHO DAS ÁGUAS”. Esta frase joga por terra toda e qualquer tentativa de se justificar a fundação de algumas cidades, a criação de bairros e loteamentos, a construção de condomínios numa região como a Serra dos Órgãos.

Enquanto os ambientalistas não suspendem sua greve de voz, muitos se conformam com a iniciativa governamental de criar um sistema avançado de previsão de fenômenos meteorológicos e descentralização das informações com mais velocidade. Será que isso BASTA?????????????

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 09/02/2011
Reeditado em 09/02/2011
Código do texto: T2780594
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