Deixei de bobagem e vivi!
- É, não há motivos para ficar assim. Da maneira como fala até parece que sou culpado por isso - ele disse quase que impaciente, enquanto ela escutava furiosa no banco do carro.
A única coisa que passava pela cabeça dela era que de alguma forma isso poderia dar errado. Era possível mesmo, tudo estava tão perfeito que às vezes chegava a achar que não merecia um relacionamento tão pacífico como esse, diferente dos outros. Pensava que ela mesma poderia, mesmo que de maneira inconsciente, arrumar ‘motivos’ para terminar.
- Como não é culpa sua? Se ela se acha no direito de ligar e falar o que quer é porque alguém deu a ela esse direito – insistia ela, com a voz já alterada. Tentava se acomodar no banco, mas era impossível, tamanha a insegurança que sentia.
Não foi a primeira vez que discutiram sobre o contato que ele mantinha com a ex. E ela sabia que era impossível isso não acontecer, afinal, eles têm uma ligação eterna. Mesmo que para ela isso não lhe dava o direito de ligar a qualquer hora...
- O comportamento dela tem que ser diferente agora. Você não é mais solteiro, estamos namorando, ela tem que ter o mínimo de noção – resmungava quase que para si mesma. Na verdade ela não queria brigar, não mesmo. Mas o incômodo de imaginá-lo conversando com outra era tão grande que não agüentava segurar só para ela.
- Não fique assim, se estou com você é porque é com você que quero ficar. É você quem eu amo, de verdade. Não quer estragar nosso relacionamento que está indo tão bem, por uma situação sem valor algum, né? – tentava convencê-la.
Ela só suspirou, ainda com raiva. Como ele achava que era sem valor algum? São os sentimentos dela. Mas, antes de continuar a discussão, parou e pensou a respeito. Diferente das ouras vezes, ela queria sempre rever suas atitudes; isso porque ela o amo muito para deixar que seu orgulho, sua vontade de vencer – mesmo que em uma discussão – fosse prioridade.
O que sentia era uma mistura de insegurança e ciúme do que ele já tinha vivido. Das paixões que teve, dos abraços que já tinha dado e das promessas que já tinha feito. Infantil, imaturo? Pode ser assim que descreveria seu sentimento, mas isso a assustava muito. Ela não conseguia admitir que, hoje, o que ele queria e planejava era com ela, e somente com ela. Na verdade, começava a achar que o problema era com ela mesma. Não se achava merecedora de um amor tão bom, verdadeiro.
- Olha, não há como apagar um passado, na verdade não é preciso. Sou o que sou hoje por causa das experiências que tive – continuou ele vendo que ela permanecia em silêncio – Lembra daquela música “não se prenda a sentimentos antigos, tudo que se foi vivido me preparou pra você. Não se ofenda com meus amores de antes, todos tornaram-se pontes pra que eu chegasse a você (...)”
Ela lembrou. Sentia que deveria parar e aceitar que o namoro era sério e que lhes trazia um sentimento lindo e verdadeiro. Suspirou mais uma vez, agora meio envergonhada. Colocou o cinto, olhou pra ele com lágrimas nos olhos e aconchegou sua mão na perna dele (gesto que costumava dizer que ela estava bem e o queria por perto).
Enquanto ele saia com o carro, ela ligou o rádio e, não por acaso, tocava a música de Jorge Vercillo – Monalisa...