A PRAÇA DA MINHA INFÂNCIA

As lembranças que eu tenho de Pedro Avelino nos tempos da minha infância, diferem totalmente em todos os sentidos da natureza humana dessa cidade atual. Aparentemente no sepulcro da vida política, social, econômica e cultural.

Recordo da praça Garibaldi Alves, conhecida como Pracinha do Clube. Aos domingos, minha mãe mandava eu tomar banho e vestir a melhor roupa para passear nessas jovens tardes. Infância simples e feliz, apenas dez anos de idade, chegava à praça lá pelas 4h da tarde. Brincadeira de criança nos grandes espaços e nos bancos coloridos, de pedras de mármore, num desconcertante drible de brincar de correr, conhecida como tica.

E já que estou numa das mais extremas lembranças de criança, um pouco distante, é importante lembrar para os jovens de hoje mais um pouco dessa praça lírica. O pouco dinheiro que meus pais me davam, era devorado com algumas baganas. Outras, eu ficava só na vontade : alfinim, barba de papai noel (algodão doce), pipoca, pão doce com caldo de cana, gelé de coco, poli (suco congelado em caçamba de gelo), cocada, pirulito na tábua, chiclete ping-pong, confeito de rapadura. O dinheiro não dava para quase nada.

Nessa pracinha existia um paredão com aproximadamente 50 metros de comprimento por 1,5 a 2 metros de altura, isso próximo à usina. Nele existia uma placa de inauguração com o nome "Praça Governador Garibaldi Alves". Nessa pequena muralha brincávamos encima e embaixo num zigue-zague de pitu (tica) e bandeirinha.

Fim de tarde aos domingos, o vigia conhecido como Nogel, ficava 'doido' com tanto menino perturbando o seu ambiente de trabalho com travessuras infantis. Horário combinado para casa era 6 da tarde. E a preocupação do vigia noturno não era mais com a meninada e, sim, com a juventude que se concentrava na praça para as festas no Country Club, que 'ficava' em frente.

Nos velhos e bons carnavais não perdia os desfiles dos blocos, realizados pela manhâ nos domingos da festa momesca: Econômicos, Jovem Samba, Xafurdo, Metralhas, Inocentes e outros disputavam o primeiro lugar. A reunião preliminar era na pracinha que serviu também como termômetro para os festivais universitários da extinta Associação Universitária de pedro Avelino (AUPA).

Como curiosidade, essa praça era o divisor do Centro da cidade com o bairro da Estação. Os adolescentes do Centro ou da Estação andavam em grupo, não podiam se encontrar, a briga era feia. Grande rivalidade, tendo a pracinha como termômetro.

Outra curiosidade é que na época, início da década de 1970, existiam poucos televisores em Pedro avelino, por isso, no centro da praça tinha um busto de concreto com TV ABC em preto e branco. A quantidade de pessoas era um verdadeiro cinema.

Hoje não existe a praça e nem o Club. A pracinha está 'morta' e só existe na lembrança. Só não matou a saudade que ela deixou em mim. Uma saudade de coisa antiga, de amor perdido. Ah, se essa praça fosse minha...

Marcos Calaça
Enviado por Marcos Calaça em 10/02/2011
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