CHEIROS DA INFÂNCIA

CHEIROS DA INFÂNCIA

Certo dia estava caminhando no terreno do meu cunhado, Francisco Rufino (Checo), e senti cheiro de vargem de algaroba. "Bage" para os sertanejos que eu, quando menino, juntava para vender e apurar alguns trocados para consumo de baganas e para a entrada no Cinema Paroquial.

Quando menino, na casa da fazenda do meu avô, lembro do cheiro acre de castanha de caju assando em uma lata de querosene Jacaré, furada. Também recordo do cheiro da oiticica, no rio Gaspar Lopes; do fruto da carnaubeira, ao redor do campo do Flamengo; do cheiro do café torrado batido no pilão; do cheiro da galinha caipira, torrada na panela de barro; do cheiro de juá, juazeiro que ainda existe e resiste ao tempo no terreno do meu avô, próximo ao cemitério; também me lembro do cheiro de remédio da farmácia de papai.

Oa cheiros da minha infância também retratam as imensas panelas de canjica, do bom inverno do sertão; não consigo esquecer do cheiro de pipoca, pipoca essa feita com milho do sertão, em areia quente, na panela de barro e vendida por Davina, parente de Maria Bola; que cheiro bom era aquele de arroz (bugó) no Abel Furtado; e o cheiro do umbu-cajá do sertão?

Lembranças do cheiro de poeira na rua Velha, antes do calçamento; ainda consigo me lembrar do cheiro da chuva; do cheiro de curral e do esterco; do cheiro de terra molhada, após meses sem chover; do cheiro da água barrenta do açude de Odilon; não esqueço do cheiro do poço do Machado no rio Gaspar Lopes, em busca da 'galinha gorda'; lembranças do cheiro de pirulito na casa da professora de reforço Tetê, irmâ do professor Bosco; quando menino, me lembro do cheiro da juventude em busca de votos para eleger o professor Bosco como o primeiro vereador dos jovens e dos estudantes, numa época em que não se podia falar em liberdade.

Não consigo esquecer do cheiro da derrota da seleção de Pedro Avelino para a seleção de Areia Branca, em 1971, na semi-final do Matutão, na qual papai ficou abraçado com o zagueiro central JB (Toreite) e, os dois, chorando como crianças.

Estou parando. Meus olhos estão lacrimejando. Estou trêmulo, mas ainda tenho forças para me lembrar do cheiro dos brinquedos e brincadeiras de criança, ao lado dos amigos de infância; ainda lembro do cheiro dos meus irmãos. Por último, o cheiro mais sublime, o cheiro da mamãe e do papai.

Marcos Calaça
Enviado por Marcos Calaça em 11/02/2011
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