Existem fatos na vida que dificilmente têm explicação. Por mais que eu tente entender ou explicar o sumiço de meu precioso tesouro, meu caderno de poesia, meu companheiro inseparável, continuo sem resposta. Resposta de como ele sumiu, porque na verdade, ele retornou. E, voltou calado, simplesmente voltou. Como num passe de mágica, cá está ele de volta. Apenas uma página ficou pelo caminho. Nem perguntei por onde andou, que maõs o pegaram, que olhos o leram, me basta saber que ele voltou, e para ficar.
         Bem, não foi recebido com as devidas honras, longe disso. As lágrimas foram tantas, as batidas do coração tão aceleradas que nem tinha como recepcoioná-lo, só oferecí meu regaço e meu coração descompassado, cansados da ausência dele. Foi um choro de alegria, de saudade finda por reencontrar meu pedaço perdido. E, me recompus. Voltei a ser inteira.Voltei a ser plena.
         Demorei até a folheá-lo. O medo de uma nova separação, persiste. Aos poucos estou me habituando novamente com ele. Nele estão meus poemas quebrados, em pedaços, mas inteiros. Meus desabafos, minhas confissões inconfessáveis. Lá, meu celeiro, minhas sementes de poesia prestes a explodir, virar poema. Basta apenas uma página qualquer, e lá estão eles atrevidos, matreiros, sem ética nem estética, desafiando a gramática, mas me retratanto fielmente da alma ao coração. Lá estão me desafogando, me completando, me inebriando.
        Como é bom olhar pra ele, sentir que ele está novamente ao meu dispor, á minha vontade. Como é bom! Como é bom saber que novamente terei onde abastecer-me de lirismo.
       Bem, não sei se pago a promessa ao tal São Longuinho e fico pulando como uma pipoca, se levo uma galinha preta numa encruzilhada, se jogo flores á Yemanjá, ou simplesmente agradeço a Beladora, e ao querido Humberto que tanto torceram e sofreram comigo a perda. Na indecisão farei tudo. Ele merece.
Aparentemente é um caderno qualquer, mas ele tem alma, tem vida própria. Tem meus pedaços, tem meus restos, tem minha voz, muitas vezes calada, tem minha alma muitas vezes partida, tem confissões que só a ele fiz.
      Hoje dormí com ele, o agasalhei com meu lençol, e juntos adormecemos nos prometendo que jamais nos desgrudaríamos, já que foi tão penosa a separaração.
      SEJA BEM VINDO!