E NEM ME PERGUNTE SOBRE O DIA DE AMANHÃ
 


Vá lá entender esse sentimento de “reboliço” dentro de mim, um dia estou por cima, acordo com o pé direito ,quero me confessar com o padre Zezinho, assistir missa do padre Marcelo na TV, cantar em dueto com o padre Fábio, de preferência uma música gospel da cantora Aline Barros. E, de tão alto astral, saio dando bom dia a Deus e ao mundo. No  outro,  posso amanhecer macambúzia   com o livro de Marcelo Gleiser (presente do meu amigo Zé Cláudio ) debaixo do braço, cheia de minhocas na cabeça, cismando com a vida primitiva de quando, onde e como surgiu. Como ninguém ainda me convenceu, do contrário, acredito no que está no livro: nasceu do lodo primordial, moléculas entraram em ação, formas acidentais, divisões espontâneas, umas cresceram mais do que as outras, enrolou-se num círculo, mordeu-se a si mesma e, vibrando, dividiu-se em duas. Duas viraram quatro . Quatro , oito. E a vida ou algo como ela, havia começado. Não como eu e você. Mas também eu e você. Esse é o dia em que o pé esquerdo pisa no chão primeiro e me faz tropeçar nos próprios, seguro um palavrão, detesto a cara refletida no espelho e olho atravessado para quem me serve o café. E, então, decido ir ao zoológico alimentar os macacos, enquanto no rádio do carro, Gal pede, além de socorro, um coração novo, pois o dela já não bate nem apanha, que nem o meu.


Ah, nem me pergunte sobre o dia de amanhã, com certeza será outro “reboliço”...

 
 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 14/02/2011
Reeditado em 14/02/2011
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