PÁTHOS

Sala de espera de uma produtora de vídeo. Quatro mulheres estão sentadas, têm as feições tensas e seguram as mãos. Um assistente liga a televisão num programa educativo para entretê-las, mas as atenções estão voltadas para a sala fechada, onde seus filhos participam de uma dinâmica para o elenco de um programa infantil.

A quarta mãe, então iniciante, tenta iniciar um diálogo. Perguntas cotidianas, afirmações sobre o tempo... É friamente recebida. Uma resposta seca e monocórdica, um corte rápido para sua ousadia. A dinâmica ocorre na sala fechada, na de espera resta a estática de quem concorre em orações, anseios, promessas para a escolha de seu pequeno astro-mirim.

Sem cordialidade, as responsáveis não precisam representar a amistosa espontaneidade dos pequenos.

No corredor, os envolvidos na produção passam apressados. A produtora executiva rapidamente explica qual a finalidade da seleção para as mães ensimesmadas: figuração principal em programas educacionais. O diretor aparece com a roupa solta e colorida. Sorri discretamente, parece compreender o clima tenso da sala com as quatro mulheres. Não há papéis, não há falas para quem espera...

Foco na alegria das crianças brincando no parque da escola, inocentes sorrisos, curiosidade infantil... Perguntas e respostas... As mulheres permanecem em silêncio, com os olhares aprisionados no chão e com as mãos presas às expectativas. A rivalidade extrapola a dinâmica e permanece cristalizada nas faces das torcidas.

O tempo derrete... O desenho no telão parece congelar na primeira cena, as mulheres perdem os traços do tempo nos perfis retesados. Duas horas... Enfim, as crianças saem, cada uma com o seu sorriso e com o desejo de ter sido escolhida. Ainda são espontâneas, talvez já interiorizadas no objetivo da dinâmica, mas as mães logo represam suas emoções com gestos de silêncio. Acabou o teste! Não é preciso continuar representando.

Cada mãe sai com o próprio sonho e a respectiva extensão, esperando por um contato posterior. A sociedade do espetáculo vista dos bastidores cotidianos e na deturpada realização do ser em roteiros preconcebidos. A inocência da infância reproduzida para ser compreendida em sua representação.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 26/06/2005
Código do texto: T28012