Demorou 11 anos, mas valeu...

Esta semana, conversando com amigos de outra divisão da empresa, me dei conta que desde que cheguei aqui não havia ainda experimentado algo tão comum e que faz parte do dia-a-dia da maioria dos Brasileiros nas grandes cidades, que é se aglomerar disputando espaço, chacoalhando em ruas esburacadas num veículo de transporte de massa que alguns p........(continuo me recusando a pronunciar esse palavrão) acreditam que serve realmente prá isso: transportar massa de manobra e não pessoas.

Mas, para ser fiel à promessa que fiz a eles e até como agradecimento pela oportunidade que me abriram, resolvi fazer uma tentativa. Querem arriscar comigo?

Começa que aqui é um pouco diferente, como Vocês podem ver na foto: foi nesse terminal e num veículo semelhante a esse que entrei hoje. A princípio, fiquei meio ressabiado, não sabendo bem o que fazer. Quanto é? 

Os pontos ficam em "tubos" protegidos do sol e da chuva, as portas abrem na mesma altura em que estão os passageiros e ninguém precisa ter cuidado com degraus e muito menos correr o risco de pisar no vazio.  Lá em Londres ficou famosa a expressão "Mind the gap" no metrô mas em Curitiba não há esse "gap" (distância entre carro e a plataforma).  Lá vem ele...

Subo(força de expressão pois não precisa subir em nada a não ser no próprio tubo) e vou procurando um lugar.  Logo uma mocinha dá um sorriso condescendente e me oferece o lugar prá sentar. Que decepção... mas vamos seguindo... 7 ou 8 "pontos" e exatos 12 minutos depois chego à Praça Osório, trajeto que se eu fizesse de carro demoraria pelo menos o dobro, sem falar no estacionamento. Começo a desconfiar...

Desço sem nenhum atropelo e exercito o "prazer" de andar, atravesso a praça, paro para apreciar o chafariz e, não sei porque, me surpreendo com o seu funcionamento alternando a altura dos jatos de água. Um casal me pede prá tirar uma foto deles... Sinto o aroma do café da "Boca Maldita", local onde nos anos de chumbo se reuniam os jovens de então prá falar da ditadura. Hoje, esses mesmos jovens falam de coisas mais amenas:  dos netos, do Coxa e do Furacão. Você viu a Dilma? Que é que tem?...  Mas o café ainda é o melhor de Curitiba.

Seguindo pela rua XV... Essa rua foi talvez a primeira do Brasil a ser fechada ao tráfego de veículos. É a rua da gente, dos artistas e de seus sinônimos, as crianças. Uma vez por ano e durante 3 ou 4 semanas antes do Natal, bem em frente à "Boca" no Palácio Avenida, elas se tornam artistas entoando cantos natalinos num espetáculo emocionante...

Nesse trecho se encontra de tudo: pintores, artesãos, tarólogos, uma banda de música latina que me faz lembrar o que nunca esqueci... Uma fauna multicolorida que mistura lojas, lanchonetes com cadeiras e guarda-sóis espalhados, turistas, Campineiros(no bom sentido) e Curitibanos numa aglomeração sem risco e sem pressa.

Mas vejam ali à frente: Um bonde em plena rua? Há uma inscrição : "Bondinho da Leitura". Biblioteca!!?? Vejam só que interessante, aqui há o projeto "Curitiba Lê" que espalha 16 bibliotecas pela cidade e uma delas é esse bondinho. Nome, endereço, 15 dias para devolver prorrogáveis por mais 15 dias, de grátis...

Mas, está na hora de voltar... Mais 15 minutos e estou em casa. Por 4,40 (ida e volta que no Domingo é só 2,00) mais 1,50 do café eu preenchi uma manhã de sábado, exercitando as pernas (pouco), os olhos (muito) e arejando o cérebro.

Os meus amigos da divisão de ônibus têm razão. Curitiba continua sendo um exemplo no transporte coletivo.

E eu continuo demorando prá perceber que o bom da vida é proporcional à simplicidade das coisas mais simples. Mas ainda vou aprender... 

Leo
Leonilsson
Enviado por Leonilsson em 19/02/2011
Reeditado em 10/04/2011
Código do texto: T2801701
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