TRISTEZA URBANA

PARA OS QUE SENTEM SAUDADES DO SERTÃO

TRISTEZA URBANA

Faço troca de cartão de crédito e mochilas

Pelo cesto carregado de frutos do mato.

Faço troca de shopping pelos umbuzeiros e juazeiros,

Que são árvores do sertão quase mães santas.

Prefiro quilômetros de trilhas com passadiço

Ao trânsito maluco e engarrafado da capital.

Prefiro suar no sol do meu torrão

Que o asfalto escaldante da cidade grande.

Prefiro voos de canários, rolinhas e galos-de-campina

Aos aviões carregados de turistas exploradores.

Troco o mar de Ponta Negra de Natal

Pelo meu pequeno sítio do interior.

Aceito juremas secas na beira da estrada carroçável

Mas não concordo vendo crianças abandonadas na sombra de mangueira na metrópole.

Troco o grito do comerciário dizendo: 'pode entrar, poço lhe ajudar?'

Pela boa vontade do feirante matuto: 'carne de sol e queijo, tudo de primeira, chegou agorinha. Vamos levar, cumpade!'.

Prefiro sapos e raposas na cacimba

Aos ratos imundos nos esgotos das belas praias.

Troco pizza e lasanha de restaurantes de frente para o mar

Por buchada na panela de barro na casinha simples de taipa.

Prefiro banho de poço e sabonete de oiticica

A banho de sauna com flores perfumadas.

Prefiro riscar o nome dela no pé de mamão

Ao namoro virtual desconhecido.

Prefiro candeeiro e lamparina

Aos postes de luz a mercúrio.

Prefiro rezar numa capelinha

A enfrentar bandidos nas esquinas e nos sinais.

Troco minha vida natalense

Pela vida pedroavelinense.

Entrego essa vida urbana

Pelo sertão do meu torrão.

Aceito trocar Natal todinha

Por Serra Aguda da minha inocência

E a infância da fazenda Laginha.

Marcos Calaça
Enviado por Marcos Calaça em 19/02/2011
Código do texto: T2802747