TRISTEZA URBANA
PARA OS QUE SENTEM SAUDADES DO SERTÃO
TRISTEZA URBANA
Faço troca de cartão de crédito e mochilas
Pelo cesto carregado de frutos do mato.
Faço troca de shopping pelos umbuzeiros e juazeiros,
Que são árvores do sertão quase mães santas.
Prefiro quilômetros de trilhas com passadiço
Ao trânsito maluco e engarrafado da capital.
Prefiro suar no sol do meu torrão
Que o asfalto escaldante da cidade grande.
Prefiro voos de canários, rolinhas e galos-de-campina
Aos aviões carregados de turistas exploradores.
Troco o mar de Ponta Negra de Natal
Pelo meu pequeno sítio do interior.
Aceito juremas secas na beira da estrada carroçável
Mas não concordo vendo crianças abandonadas na sombra de mangueira na metrópole.
Troco o grito do comerciário dizendo: 'pode entrar, poço lhe ajudar?'
Pela boa vontade do feirante matuto: 'carne de sol e queijo, tudo de primeira, chegou agorinha. Vamos levar, cumpade!'.
Prefiro sapos e raposas na cacimba
Aos ratos imundos nos esgotos das belas praias.
Troco pizza e lasanha de restaurantes de frente para o mar
Por buchada na panela de barro na casinha simples de taipa.
Prefiro banho de poço e sabonete de oiticica
A banho de sauna com flores perfumadas.
Prefiro riscar o nome dela no pé de mamão
Ao namoro virtual desconhecido.
Prefiro candeeiro e lamparina
Aos postes de luz a mercúrio.
Prefiro rezar numa capelinha
A enfrentar bandidos nas esquinas e nos sinais.
Troco minha vida natalense
Pela vida pedroavelinense.
Entrego essa vida urbana
Pelo sertão do meu torrão.
Aceito trocar Natal todinha
Por Serra Aguda da minha inocência
E a infância da fazenda Laginha.