PROSSIGAMOS: INVENTEMOS SENTIDO. INVENTEMOS ESPERANÇA.

Se ainda me quisesses ouvir eu te diria, como outros tantos já o disseram:” Se não existe o sentido, vamos inventá-lo. Vamos inventar o sentido: ele precisa de nós para poder existir.”

Se ainda me pudesses crer, eu também te diria: ”Se não existe a esperança, inventemos a esperança: ela também precisa de nós para poder existir.”

Afinal, eu e tu pertencemos, salvo engano, à estirpe dolorosa dos poetas. Poetas, que me conste, passam a vida na busca da construção de edifícios de e com palavras. As palavras nunca existem por existir, existem para dar nome às coisas. Nomear as coisas é conferir-lhes sentido e, assim fazendo, conferimos também sentido a nós mesmos. Nomear as coisas é também conferir-nos esperança, a esperança de que, por seus nomes, os nomes que nós lhes conferimos, nunca deixaremos de reconhecê-las, às coisas. Mesmo as coisas cujos nomes a Razão não pode reconhecer, ainda essas, principalmente essas nos reconhecem.

Poeta que és, que sempre foste, que sempre serás: Não te juntes ao grupo dos desistentes de si mesmos e da poesia. Não te juntes a eles. Luta ainda pelas palavras. Luta ainda por elas e elas te haverão de responder ainda, e ainda e ainda. Mesmo que nos desertos mais ermos, as palavras jamais te abandonarão.

Continua a penetrar no reino das palavras, como nos exorta Drummond. Prossegue, ainda que seja abrindo picadas no meio da mata. Prossegue, mesmo com as mãos sangrando no centro das noites sem lua e sem estrelas. Prossegue sempre.

Se pudesse eu te seria Beatriz ou mesmo Laura, mas, na minha infinita pequenez humana cabe-me apenas seguir, tateando na escuridão, os meus próprios caminhos. Não posso guiar-te, não tenho altura nem sabedoria nem direito para tanto: é preciso que continuemos o percurso sozinhos.

Prossegue, Poeta. Daqui, à distância, neste meu para sempre “solitário andar por entre a gente” jamais me distancio de ti. Jamais.

Prossigamos, Poeta. Como disse aquele outro, de modo tão belo, tão fundamente, o caminho se faz a andar.

Na noite de 20 de fevereiro de 2011.