Bendigo a fotografia!

Não é simples invenção de cor, transmissão elétrica ou coisa parecida. Na verdade a folha verde da eternidade cola-se cruel ou redentora na fotografia.

Sei que atualmente existem vídeos, porém todos dependem da energia elétrica ou da bateria para poder ser revividos. A fotografia não necessita desses artifícios.

Registra um momento, um rosto, uma expressão ou um sorriso.

Registra o amargo da saudade e o doce da visão consoladora.

Anos e anos se passam, todavia permanece firme aquela imagem estampada.

Pode até ficar amarelada. Mas hoje a tecnologia permite milagres e a recuperação evidencia-se pela nitidez que não se distancia com o devorar do tempo.

Bendigo a fotografia!

Em um instante de extrema dor e aflição, ela é capaz de lavar o sal da lágrima interna dos nossos corações.

O que dizer daquele sorriso, daquela expressão ou daquele rosto que somente poderá ser visto através da fotografia?

Ameniza de certa forma a saudade e garante para a nossa memória uma lembrança que vence os obstáculos da irremediável neblina do esquecimento.

Sabemos que somos meros mortais. Também temos conhecimento da nossa impossibilidade de conseguirmos manter perto de nós para sempre todos os nossos entes queridos. Entretanto, é inegável a nossa incapacidade de assimilar com facilidade qualquer perda que sobrevenha.

Então, enquanto esse dilema ou essa dor não se dilui na água da compreensão, a foto guardada com amor na gaveta, no porta-retratos ou no álbum de família, acaricia a tristeza e põe para brincar a desolação.

Hoje, olhando várias vezes uma foto, em vários momentos eu persegui o conforto.

Estava ali uma expressão que eu não mais veria se materializar diante de meus olhos.

Estava ali registrada uma face de uma existência.

A dor deu lugar a uma alegria tão brilhante e calorosa quanto o sol!

Essa alegria surgiu porque eu sabia que a qualquer instante ou a qualquer hora eu poderia fitar novamente aquele rosto.

E aí, a saudade não seria tão amarga e a nitidez de um passado permaneceria eternamente presente em minha memória.

Bendigo a fotografia!

Preto e branco, colorida, velha e desbotada, nova e vívida. Não importa! A fotografia guarda a história que se reflete no olhar de quem suplica um alívio para a incômoda nostalgia.

Por isso digo e repito quantas vezes eu puder: Bendigo a fotografia!